Impacto da violência sofrida pela mulher no vínculo mãe-filho e na saúde mental da criança em idade pré-escolar mediados pelo estresse e pela depressão materna pós-parto : coorte IVAPSA

Abstract

Introdução: A violência praticada contra a mulher pode ter efeitos na saúde mental materna e no desenvolvimento infantil no período perinatal e pré-escolar. Objetivos: Analisar o impacto da violência praticada contra a mulher na vida e durante a gravidez na qualidade do vínculo mãe-filho e na saúde mental da criança em idade pré-escolar mediados pelo efeito do estresse e depressão materna pós-parto. Métodos: Estudo longitudinal com uma amostra de conveniência da coorte IVAPSA, no município de Porto Alegre (RS). No primeiro artigo foi realizada uma revisão sistemática com pesquisas nos bancos de dados PubMed, PsycInfo, Scopus e Web Of Science para verificar publicações que investigaram a associação entre Violência por Parceiro Íntimo (VPI) sofrida pela mulher durante a gravidez e o vínculo entre mãe-filho. Foram incluídos artigos de estudos observacionais de coorte, transversais e de casos-controle, cuja violência tenha sido avaliada no período gestacional e o vínculo entre mãe e filho mensurado até os dois anos de vida da criança. O protocolo de pesquisa foi registrado na plataforma PRÓSPERO e os artigos selecionados por dois revisores independentes utilizando critérios do protocolo PRISMA. A seleção final teve a inclusão de 10 artigos. No segundo artigo, foram realizadas análises descritivas da situação de violência sofrida pela mulher; das características sociodemográficas, de comportamento e de rotina familiar; das condições gestacionais maternas e obstétricas e das informações assistenciais e do recém-nascido. Por fim, a modelagem de equações estruturais testou o efeito mediador do estresse, da depressão pós-parto (DPP), do aleitamento materno e do sono infantil sobre a relação entre violência e vínculo mãe-filho e a influência deste vínculo na saúde mental da criança em idade pré-escolar. Resultados: Na revisão sistemática a violência sofrida na gravidez foi associada à falha no vínculo mãe-filho nos primeiros dois anos de vida da criança. No segundo artigo foram analisados 295 pares de mãe-filho. 48,8% das mulheres sofreram violência na vida e 15,9% durante a gravidez. Houve associação estatisticamente significativa entre violência e estresse, DPP, sono infantil, vínculo mãe-filho e problemas de internalização da criança em idade pré-escolar. A violência impactou na falha do vínculo mãe-filho e foi parcialmente explicada pelo estresse e DPP, enquanto os problemas de internalização na criança foram explicados pela falha no vínculo mãe-filho. Conclusões: A violência sofrida pela mulher na vida e na gravidez interfere negativamente na saúde materna e no vínculo mãe-filho com consequências para a saúde mental infantil. Prevenir e identificar, precocemente, a ocorrência de violência contra mulheres pode evitar desfechos negativos para o vínculo mãe-filho e para problemas comportamentais da criança na idade pré-escolar e na sua vida futura.

Introduction: Violence against women can have effects on maternal mental health and child development both in the perinatal and the preschool period. Objectives: To analyze the impact of violence against women across life and during pregnancy on the quality of the mother-child bond and on the mental health of preschool children, mediated by the effect of maternal postpartum stress and depression. Methods: Longitudinal study with a convenience sample of the IVAPSA cohort, in the city of Porto Alegre (Southern Brasil). In the first article, a systematic review was carried out, using data from in PubMed, PsycInfo, Scopus and Web Of Science databases order to search for publications investigating the association between Intimate Partner Violence (IPV) suffered by women during pregnancy and the mother- child bond. Articles from observational cohort, cross-sectional and case-control studies were included, whose violence had been evaluated in the gestational period and the mother-child bond measured until the child was two years old. The research protocol was registered on the PROSPERO platform and the articles were selected by two independent reviewers using criteria from the PRISMA protocol. The final selection included 10 articles. In the second article, descriptive analyzes presenting the situation of violence suffered by women, sociodemographic, behavioral and family routine characteristics, maternal and obstetric gestational conditions and newborn care information were carried out. Finally, a path analysis model tested the mediating effect of stress, postpartum depression (PPD), breastfeeding and infant sleep on the relationship between violence and mother-child bond and the influence of this bond on the mental health of the child. In preschool-age. Results: In the systematic review, the violence suffered during pregnancy was associated with a failure in the mother-child bond in the first two years of the child's life. In the second article, 295 mother-child pairs were analyzed. 48.8% of women suffered violence in their lives and 15.9% during pregnancy. There was a statistically significant association between violence and stress, PPD, infant sleep, mother-child bond, and internalizing problems in preschool children. Violence impacted the failure of the mother-child bond and was partially explained by stress and PPD, while internalizing problems in the child were explained by the failure in the mother-child bond. Conclusions: The violence suffered by women across life and during pregnancy negatively interferes with maternal health and the mother-child bond, with consequences for children's mental health. Early preventing and identifying the occurrence of violence against women could avoid negative outcomes for the mother-child bond and child behavioral problems in preschool age as well as in their future life.