Análise das associações entre síndrome de burnout, depressão e ansiedade em profissionais atendidos no contexto da pandemia covid-19

Abstract

Introdução: Apesar da síndrome de burnout ter sido oficializada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um “fenômeno relacionado ao trabalho” e sua definição ter sido recentemente mais detalhada na nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11), ainda é discutido se o burnout é um construto clínico único, principalmente devido à sobreposição de sintomas com a depressão e os transtornos de ansiedade. Objetivos: Avaliar as associações entre os sintomas primários da síndrome de burnout e os quadros clínicos de ansiedade e depressão. Métodos: Trata-se de um estudo transversal com uma amostra de participantes do projeto Atenção em Saúde Mental por Teleatendimento para Profissionais Essenciais no Contexto da pandemia por coronavírus 19. A avaliação dos sintomas foi realizada com os seguintes instrumentos autoaplicáveis: Burnout assessment tool (BAT) e os formulários breves das Escalas PROMIS (Sistema de Informação de Medição de Resultados Relatados pelo Paciente) de Depressão, Ansiedade e Irritabilidade. A discriminabilidade entre os construtos foi investigada por meio de testes de correlação, Modelagem de Equações Estruturais Bifatorial Exploratória (ESEM) e Análise de redes. Resultados: A correlação média entre as quatro subescalas do BAT-12 foi mais forte entre si do que com a depressão, ansiedade e irritabilidade. Tanto o ESEM quanto a análise de rede, apesar de mostrarem características compartilhadas, delinearam claramente que os domínios de burnout eram dissociáveis de outros domínios de afeto negativo. A análise de rede também mostrou que todas as dimensões contribuem para a ativação da rede de relacionamentos investigada, contribuindo para o entendimento de que se trata de constructos distintos que compartilham a variância comum do humor negativo. Discussão: Nossos resultados corroboram a hipótese de que as dimensões da síndrome de burnout, depressão e ansiedade compartilham uma quantidade substancial de variação, mas também têm uma especificidade importante que suporta a hipótese de burnout como um fenômeno independente. Conclusão: Nossos achados corroboram a estratégia da CID-11 de incluir a SB como uma entidade separada que não pode ser totalmente explicada pela variação explicada por outros domínios. Como a maioria dos estudos sobre burnout usa o MBI como medida e nós utilizamos o BAT, cuja base teórica é diferente, isso deve ser considerado na interpretação de nossos achados.

Introduction: Although the burnout syndrome has been made official by the World Health Organization (WHO) as a “work-related phenomenon” and its definition has recently been more detailed in the new International Classification of Diseases (ICD-11), it is still debated whether burnout is a unique clinical construct, mainly due to overlapping symptoms with depression and anxiety disorders. Objectives: To evaluate the associations between primary symptoms of burnout syndrome and clinical symptoms of anxiety and depression. Methods: This is a cross-sectional study with a sample of participants in the Mental Health Care Project for Telemarketing for Essential Professionals in the Context of the Coronavirus 19 Pandemic. The assessment of symptoms was performed using the following self-administered instruments: the Burnout Assessment Tool (BAT) and the short forms of the Patient Reported Outcomes Measurement Information System (PROMIS) of Depression, Anxiety and Irritability. The discriminability between the constructs was investigated using correlation tests, Bifactor Exploratory Structural Equation Modeling Bifactor (ESEM) and Network Analyzes. Results: The mean correlation between the four BAT-12 subscales was stronger with each other than with depression, anxiety, and irritability. Both the ESEM and the network analysis, despite showing shared characteristics, clearly delineated that the burnout domains were dissociable from other negative affect domains. Network analysis also showed that all dimensions contribute to the activation of the investigated relationship network, contributing to the understanding that these are distinct constructs that share the common variance of negative mood. Discussion: Our results support the hypothesis that the dimensions of burnout, depression, and anxiety share a substantial amount of variation, but also have an important specificity that supports the hypothesis of burnout as an independent phenomenon. Conclusion: Our findings support the ICD-11 strategy of including BS as a separate entity that cannot be fully explained by variation explained by other domains. As most studies on burnout use the MBI as a measure and we use the BAT, whose theoretical basis is different, this should be considered when interpreting our findings.