Memória em desvio : paisagens em vertigem
Fecha
2022Tutor
Co-director
Nivel académico
Doctorado
Tipo
Materia
Resumo
O presente trabalho se debruça sobre a questão da ética da memória afirmando-a desde uma perspectiva trágica e inventiva: não se trata de lutar para reaver o passado, conservando-o inalterado, tampouco de negá-lo ou combatê-lo em sua irreversibilidade e sobrevivência fragmentária, mas de produzir as enzimas necessárias para metabolizá-lo e incorporá-lo aos processos de luto e esquecimento. O esfacelamento das formas e o tremor ininterrupto das paisagens engendram a produção de desvios: o descar ...
O presente trabalho se debruça sobre a questão da ética da memória afirmando-a desde uma perspectiva trágica e inventiva: não se trata de lutar para reaver o passado, conservando-o inalterado, tampouco de negá-lo ou combatê-lo em sua irreversibilidade e sobrevivência fragmentária, mas de produzir as enzimas necessárias para metabolizá-lo e incorporá-lo aos processos de luto e esquecimento. O esfacelamento das formas e o tremor ininterrupto das paisagens engendram a produção de desvios: o descarrilhamento dos trilhos da ferrovia em São Salvador leva à fabricação de narrativas que servem como locomotivas para os passageiros desembarcados na antiga estação desativada; o desmoronamento das colunas do patrimônio diante do imperativo de preservação da herança colonial em Paranapiacaba convoca o olhar da pesquisadora para os movimentos transgressores do fogo e dos fungos, incansáveis em promover a evaporação e a decomposição da matéria. O barro participa da constituição desta tese na medida em que oferece um território para os paradoxos da memória: a duração acompanhada pela transmutação, a sedimentação inseparável das fraturas, choques e explosões, a obra arregimentada pelos encontros e acasos, pela destruição e extravio implacáveis que se impõem a toda e qualquer imagem-verso-escultura suscetível aos arranjos, desarranjos e rearranjos do tempo. Se a pesquisa caminha sobre trilhos existentes e desaparecidos é para em algum momento adentrar uma montanha e de suas rochas extrair a argila que usará para modelar uma série de rodas com contornos irregulares. Tais círculos querem rolar pelo mundo, fazendo ver através de seus vãos os retratos efêmeros das paisagens: frutos e flores apodrecendo pelo chão, pássaros em voo, formigas devorando cogumelos, luzes de astros fugidios no céu. Há resquícios de cidades e corpos que inscreveram suas marcas na pele e na subjetividade da pesquisadora, responsável por recriá-las através da ficção na tentativa de transmitir um sopro acerca das intensidades sofridas durante o processo de produção do conhecimento. Aqui o pensamento está ora implicado com a decantação das memórias, ora afundado numa poça de lama, ora navegando à deriva nas águas turvas do esquecimento, ora ardendo nas chamas de uma fogueira, ora revirando as cinzas à procura das fagulhas andarilhas. Não existem paradas, apenas despedidas e recomeços. ...
Abstract
The work herein focuses on the ethics of memory, affirming it from a tragic and inventive perspective: it is not a matter of struggling to recover the past to keep it unchanged, nor denying it or fighting it in its irreversibility and fragmentary survival, yet a matter of producing the enzymes needed to metabolize it and incorporate it to the processes of grief and forgetfulness. The crumbling of forms and the restless tremor of the landscapes engender the production of detours: the derailment ...
The work herein focuses on the ethics of memory, affirming it from a tragic and inventive perspective: it is not a matter of struggling to recover the past to keep it unchanged, nor denying it or fighting it in its irreversibility and fragmentary survival, yet a matter of producing the enzymes needed to metabolize it and incorporate it to the processes of grief and forgetfulness. The crumbling of forms and the restless tremor of the landscapes engender the production of detours: the derailment of the railroad tracks in San Salvador leads to construction of narratives that serve as locomotives for the passengers that disembark at the old, deactivated station; the collapse of the heritage columns facing the imperative of preservation of the colonial heritage in Paranapiacaba calls upon the researcher’s look to the transgressive movements of fire and fungi, as they unwearyingly promote the evaporation and the decomposition of matter. Clay participates of the constitution of this thesis as it offers a territory for the paradoxes of memory: the duration, accompanied of transmutation; the sedimentation, inseparable of fractures, shocks, and explosions; the work regimented by encounters and chance, by the ruthless destruction and misplacement that impose themselves over any image-verse-sculpture that is susceptible to arrangements, disarrangements, and rearrangements of time. If the research walks on existing and disappeared tracks, it is so to at some point enter a mountain and, from its rocks, extract the clay that will be used to model a series of wheels with irregular contours. Such circles want to roll around the world, making ephemeral portraits of landscapes: fruits and flowers rotting over the ground, birds flying, ants devouring mushrooms, lights from fleeting stars in the sky. There are remnants of cities and bodies that inscribed their marks on the skin and subjectivity of the researcher, that is responsible for recreating them through fiction, in an attempt to convey a breath about the intensities suffered during the process of producing knowledge. Here, thought is sometimes involved with the decanting of memories, sometimes sunk in a mud puddle, sometimes sailing adrift in the murky waters of forgetfulness, sometimes burning in the flames of a bonfire, sometimes tossing the ashes in search of wandering sparks. There are no stops, only farewells and new beginnings. ...
Institución
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional.
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Ciencias Humanas (7479)
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