No lugar de ninguém: representação de personagens acromatas na literatura brasileira do século XXI

Abstract

Pessoas com a deficiência visual parcial chamada acromatopsia, condição caracterizada pela baixa acuidade visual, a incapacidade de ver cores e a fotofobia severa, vivem um complicado limiar. Por um lado, sua deficiência passa invisibilizada pela sociedade, permitindo a elas transitarem pelo mundo das pessoas sem deficiência. Por outro, é necessário que as pessoas com essa condição visual tenham que constantemente reafirmar sua identidade a fim de serem vistas e fazerem seus direitos serem garantidos. Partimos do pressuposto de que é importante que seus corpos e suas subjetividades estejam representados na literatura, já que a partir dela podemos exercitar nossa alteridade para com os diferentes, bem como encontrar a representação de nós mesmos, devidamente estruturada em narrativa e linguagem que nos ajudem a organizar nossa própria existência. Este trabalho se divide em duas partes, uma criativa e outra teórica. A primeira parte é a produção de uma novela literária cuja protagonista é acromata. Além de lidar com as questões da própria condição, procurando entender-se como PcD, a protagonista descobre que o filho que espera pode ter Síndrome de Down e se vê diante de um conflito. A narrativa é contada em capítulos curtos e com a ordem cronológica quebrada. Na segunda, fizemos as perguntas de se e como pessoas acromatas têm sido representadas na literatura brasileira contemporânea e se a invisibilidade da condição é uma questão para tais personagens. O objetivo dessa parte é investigar a existência de protagonistas com acromatopsia em livros literários da literatura brasileira contemporânea e discutir sua representação à luz das noções de identidade, processo de identificação e representação de Stuart Hall, e lugar de fala de Djamila Ribeiro.

People with the visual impairment called achromatopsia, a condition characterized by low visual acuity, the inability to see colors and severe photophobia, experience a complicated threshold. On the one hand, their disability is made invisible by society, allowing them to move through the world of people who do not have any disability. On the other hand, it is necessary that people with this visual condition have to constantly reaffirm their identity in order to be seen and to ensure their rights. We start from the assumption that it is important that their bodies and their subjectivities are represented in literature, since from there we can exercise our alterity towards the different, as well as find the representation of ourselves, properly structured in narrative and language that help us organize our own existence. This work is divided into two parts, one creative and one theoretical. The first part is the production of a literary novel whose protagonist is an achromat. In addition to dealing with the issues of her own condition, trying to understand herself as a disabled person, the protagonist discovers that the child she is expecting may have Down Syndrome and is faced with a conflict. The narrative is told in short chapters and with broken chronological order. In the second part, we asked the questions of whether and how achromatic people have been represented in contemporary Brazilian literature and whether the invisibility of the condition is an issue for such characters. The objective of this part is to investigate the existence of protagonists with achromatopsia in literary books of contemporary Brazilian literature and to discuss their representation in the light of Stuart Hall's notions of identity, identification process and representation, and Djamila Ribeiro's place of speech.