A lógica do capital financeiro e seus reflexos no trabalho do professor universitário

Abstract

O presente trabalho propõe-se a investigar de que modo a gestão preconizada pela lógica do capital financeiro influencia o trabalho e a saúde mental dos professores das instituições de ensino superior privadas. A tese apresenta a pesquisa realizada com trabalhadores de universidades que possuem capital aberto em bolsa de valores e estão localizadas no estado do Rio Grande do Sul e em Brasília - DF. Os diferenciais da pesquisa, assim como sua importância, estão no paralelo entre o capitalismo contemporâneo, focado no ganho de rentistas, e a especificidade do trabalho de professores universitários. Entende-se que, mais que um processo de financeirização do ensino superior, está em curso um novo formato de educação, baseado no estilo econômico improdutivo, no qual os valores não retornam para a sociedade, mas são reinvestidos, buscando mais juros para poucos investidores. Para tanto, as empresas/instituições de ensino superior privadas que possuem vínculo com um grupo econômico utilizam um modelo de gestão já formatado para qualquer segmento, sem levar em consideração as nuances da educação e do ensino. A pesquisa, do tipo qualitativa, utiliza entrevistas com análises realizadas por meio dos pressupostos das chamadas clínicas do trabalho, mais especificamente, clínica psicodinâmica do trabalho. No que se refere ao reflexo da lógica do capital financeiro no trabalho dos professores e, consequentemente, na sua saúde, verifica-se que existe um formato que modifica a maneira de trabalhar e foca em indicadores e trabalhos burocráticos relacionados à manutenção do cliente/aluno em detrimento do processo de ensino e aprendizagem. As práticas, pautadas pela obtenção do lucro, destroem os coletivos de trabalho, suscitando insegurança perante seu emprego, incentivo à baixa qualificação, para evitar aumentos salariais, pouca autonomia no processo criativo em sala de aula, além de estratégias para redução de carga horária, tais como aumento do número de alunos em sala de aula e implementação de disciplinas com atividades a distância, a cargo de monitores, sem a participação dos professores na construção deste conteúdo a ser trabalhado. A percepção dos professores é de que seu trabalho é desvalorizado, tanto pelo salário recebido quanto pelo processo, que está focado no mínimo de exigência de conhecimento. Diante disso, mecanismos de defesa, como a racionalização e a banalização do processo dessas práticas, têm sido utilizados a fim de minimizar o sofrimento e permitir a continuidade do trabalho. Junto a isso, a lógica capitalista de autocobrança e endividamento, junto com o entendimento dessas práticas como comuns e aceitáveis, resulta em professores destituídos de seu papel social transformador, piorando os sintomas na saúde, principalmente psíquica. É possível concluir que está em curso um projeto de ensino superior focado na utilidade rentista e associado a uma degradação do papel do professor universitário.

This paper proposes to investigate how the management advocated by the logic of financial capital influences the work and mental health of teachers in private higher education institutions. The thesis presents the research carried out with workers from universities that are publicly traded on the stock exchange and are located in the state of Rio Grande do Sul and Brasília - DF. The differentials of the research, as well as its importance, are in the parallel between contemporary capitalism, focused on earning renters, and the specificity of the work of university professors. It is understood that, more than a process of financialization of higher education, a new education format is underway, based on an unproductive economic style, in which values do not return to society, but are reinvested, seeking more interest for few investors . For that, private higher education companies/institutions that are linked to an economic group use a management model already formatted for any segment, without taking into account the nuances of education and teaching. The research, of a qualitative type, uses interviews with analyzes carried out through the assumptions of the so-called work clinics, more specifically, the psychodynamic work clinic. With regard to the reflection of the logic of financial capital in the work of teachers and, consequently, in their health, it appears that there is a format that modifies the way of working and focuses on indicators and bureaucratic work related to client/student maintenance to the detriment of the teaching and learning process. The practices, based on obtaining profit, destroy the work groups, causing insecurity in their employment, encouraging low qualifications, to avoid salary increases, little autonomy in the creative process in the classroom, in addition to strategies to reduce the workload, such as an increase in the number of students in the classroom and implementation of disciplines with distance activities, under the responsibility of monitors, without the participation of teachers in the construction of this content to be worked on. The perception of teachers is that their work is undervalued, both because of the salary received and because of the process, which is focused on the minimum requirement for knowledge. Therefore, defense mechanisms, such as the rationalization and trivialization of the process of these practices, have been used in order to minimize suffering and allow work to continue. Along with this, the capitalist logic of selfcollection and indebtedness, together with the understanding of these practices as common and acceptable, results in teachers deprived of their transforming social role, worsening the symptoms in health, especially psychic ones. It is possible to conclude that there is an ongoing higher education project focused on rentier utility and associated with a degradation of the role of the university professor.

Cet article vise à étudier comment la gestion prônée par la logique du capital financier influence le travail et la santé mentale des enseignants dans les établissements d'enseignement supérieur privés. La thèse présente les recherches menées avec des travailleurs d'universités cotées en bourse et situées dans l'État de Rio Grande do Sul et Brasilia - DF. Les différentiels de la recherche, ainsi que son importance, sont dans le parallèle entre le capitalisme contemporain, centré sur les rentiers rémunérateurs, et la spécificité du travail des professeurs d'université. On comprend que, plus qu'un processus de financiarisation de l'enseignement supérieur, un nouveau format d'enseignement est en cours, basé sur un style économique improductif, dans lequel les valeurs ne reviennent pas à la société, mais sont réinvesties, cherchant plus d'intérêt pour peu d'investisseurs. Pour cela, les entreprises/établissements privés d'enseignement supérieur liés à un groupe économique utilisent un modèle de gestion déjà formaté pour n'importe quel segment, sans tenir compte des nuances de l'enseignement. La recherche, de type qualitatif, utilise des entretiens avec des analyses réalisées à travers les hypothèses des cliniques dites du travail, plus précisément, la Psychodynamique du Travail. En ce qui concerne la réflexion de la logique du capital financier dans le travail des enseignants et, par conséquent, dans leur santé, il apparaît qu'il existe un format qui modifie la façon de travailler et se concentre sur les indicateurs et le travail bureaucratique liés à l'entretien client/étudiant au détriment du processus d'enseignement et d'apprentissage. Les pratiques, basées sur le profit, détruisent les groupes de travail, provoquant une insécurité dans leur emploi, encourageant les faibles qualifications, pour éviter les augmentations de salaire, peu d'autonomie dans le processus créatif en classe, en plus des stratégies de réduction de la charge de travail, comme une augmentation du nombre d'élèves en classe et mise en place de disciplines avec des activités à distance, sous la responsabilité des moniteurs, sans la participation des enseignants à la construction de ce contenu à travailler. La perception des enseignants est que leur travail est sous-évalué, à la fois en raison du salaire reçu et en raison du processus, qui est axé sur l'exigence minimale de connaissances. Par conséquent, des mécanismes de défense, tels que la rationalisation et la banalisation du processus de ces pratiques, ont été utilisés afin de minimiser la souffrance et de permettre la poursuite du travail. Parallèlement à cela, la logique capitaliste d'auto-collecte et d'endettement, ainsi que la compréhension de ces pratiques comme communes et acceptables, aboutissent à des enseignants privés de leur rôle social transformateur, aggravant les symptômes de santé, notamment psychiques. Il est possible de conclure qu'il existe un projet d'enseignement supérieur en cours centré sur l'utilité rentière et associé à une dégradation du rôle du professeur d'université.