Trajetórias do trágico na escuta a mulheres em situação de violência

Abstract

A presente dissertação dedica-se a pensar uma clínica com mulheres em situação de violência pelas lentes da filosofia trágica em articulação com a psicanálise. O trabalho justifica-se diante dos crescentes registros e denúncias de violências de gênero no Brasil, agravadas com a pandemia do SARS-CoV-2. Na última década, o país atingiu o vergonhoso 5º lugar no ranking mundial de feminicídios. A pesquisa se insere em um projeto maior de pesquisa-intervenção intitulado “Experiências Urbanas e Produção do Comum: Modos de Vida e Invenção das Cidades em Tempos de Intolerância", que investigou experiências coletivas com determinados modos de exclusão operantes na cidade e, no contraponto, na produção de um comum enquanto modo de resistência ao capitalismo contemporâneo. Ao longo de um ano e meio, um percurso metodológico cartográfico foi se delineando a partir de encontros sistemáticos com um grupo de escuta das acolhidas na Ocupação de Mulheres Mirabal, em Porto Alegre. A elaboração de diários de campo pelo grupo de pesquisadoras da cidade, em sua imersão junto às moradoras da Ocupação, foi uma das principais ferramentas que permitiu colocar as trajetórias das mulheres e as implicações das pesquisadoras em análise, a fim de contribuir para que mulheres cujas vidas são marcadas por violências reincidentes possam fazer certa travessia do que lhes causa aprisionamentos.

This dissertation is focused on thinking about a clinic with women in situations of violence through the lens of tragic philosophy articulated with psychoanalysis. The work is justified considering the increasing records and reports of gender violence in Brazil, aggravated by the SARS-CoV-2 pandemic. In the last decade, the country has reached the shameful 5th place in the world ranking of femicides. This research is part of a larger research-intervention project entitled “Urban Experiences and Production of the Common: Ways of Life and Invention of Cities in Times of Intolerance”;, which investigates experiences with certain means of exclusion operating in the city and, in counterpoint, the production of a common as a way of resisting contemporary capitalism. Over the course of a year and a half, a cartographic methodological path was outlined from systematic meetings in a listening group for those sheltered at the Occupation of Women Mirabal, in Porto Alegre. The elaboration of field journals by the group of researchers from the larger research-intervention project, in their immersion with the residents of Occupation, was one of the main tools which made it possible to put under analysis the trajectories of women and the implications of the researchers, in order to contribute to the women, whose lives are marked by recurrent violence, so they can make a certain crossing of what causes them imprisonment.