Sistema modulatório descendente da dor na fibromialgia : preditores de disfunção e conectividade funcional por ressonância magnética funcional
Fecha
2022Tutor
Nivel académico
Doctorado
Tipo
Materia
Resumo
A fibromialgia (FM) é uma síndrome que se caracteriza por dor musculoesquelética generalizada, fadiga, sono não reparador, alterações cognitivas, sintomas depressivos e neurovegetativos, cujo processo neurobiológico é múltiplo e complexo. Apesar de ser de grande relevância ao indivíduo e à sociedade, esta patologia com frequência não recebe a atenção necessária pelos órgãos que definem as prioridades da assistência na saúde. A prevalência populacional, segundo os critérios da Sociedade American ...
A fibromialgia (FM) é uma síndrome que se caracteriza por dor musculoesquelética generalizada, fadiga, sono não reparador, alterações cognitivas, sintomas depressivos e neurovegetativos, cujo processo neurobiológico é múltiplo e complexo. Apesar de ser de grande relevância ao indivíduo e à sociedade, esta patologia com frequência não recebe a atenção necessária pelos órgãos que definem as prioridades da assistência na saúde. A prevalência populacional, segundo os critérios da Sociedade Americana de Reumatologia, chega a 5,4%, e os gastos decorrentes de atendimento, impostos e aposentadoria precoce por incapacidade são estimados em mais de 29 bilhões de dólares ao ano nos EUA. A falha das terapêuticas farmacológicas convencionais ocorre em cerca de 50% dos pacientes. Postula-se que essas taxas elevadas de insucesso se devam em parte à falta de conhecimento sobre os mecanismos fisiopatológicos. O mecanismo que permeia o conjunto de sintomas que constituem a FM é a síndrome de sensibilização central (SSC). O conjunto de sintomas inclui o sofrimento psíquico, distúrbios do sono, fadiga, dor, alodínia e hiperalgesia. Esta condição tem como mecanismo fisiopatológico o funcionamento prejudicado de neurônios e circuitos em vias nociceptivas, com aumento do campo receptivo, da eficácia sináptica da excitabilidade e redução da inibição. Outro componente fundamental na SSC é a disfunção do sistema modulatório descendente da dor (SMDD), que pode ser avaliado através do teste de modulação condicionada da dor (conditioned pain modulation test [CPM-test]). Neste teste, os participantes podem ser classificados como respondedores ou não respondedores, sendo que neste último grupo há uma perda da capacidade de inibição do SMDD. Estudos de neuroimagem em pacientes com dor crônica demonstram alterações funcionais corticais e de suas conexões com estruturas subcorticais que constituem a neuromatriz da dor. Entre as técnicas de neuroimagem, merece destaque o estudo com ressonância magnética funcional (fMRI) em estado de repouso (do inglês, resting-state [fMRI ou rs-fMRI]), para avaliar a conectividade funcional intrínseca (CFI). Com a finalidade de compreender fatores clínicos, laboratoriais e de neuroimagem que poderiam discriminar a disfunção do SMDD, foram desenvolvidos dois estudos. No primeiro estudo, buscamos identificar se um conjunto de sintomas da FM e os biomarcadores de neuroplasticidade poderiam constituir um índice composto de gravidade, bem como se esse teria poder discriminatório para identificar respondedores e não respondedores ao teste de CPM. Nesse estudo transversal foram incluídas 117 mulheres com FM (n = 60) não respondedoras e (n = 57) respondedoras, com idade entre 30 e 65 anos. A avaliação do SMDD pelo teste de CPM foi feita pelas mudanças nos escores da escala numérica de dor, usando-se um protocolo padronizado. A análise de regressão logística multivariada hierárquica foi usada para construir um índice ajustado ao escore de propensão para identificar não respondedores em comparação com respondedores ao teste de CPM. As seguintes variáveis foram mantidas nos modelos: uso de analgésico quatro ou mais vezes por semana, limiar de dor ao calor (heat pain threshold, HPT), má qualidade do sono, catastrofização da dor, níveis séricos de fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), número de diagnósticos psiquiátricos e impacto dos sintomas da FM na qualidade da vida. A receiver operating characteristic curve (ROC) mostrou que os não respondedores podem ser discriminados dos respondedores por um índice composto pelos sintomas da FM combinados a marcadores de neuroplasticidade (área sob a curva [AUC] = 0,83; sensibilidade = 100%; especificidade = 98%). O segundo estudo avaliou padrões de CFI entre as redes cerebrais de processamento da dor e o SMDD, através da rs-fMRI em pacientes com FM. Além disso, investigamos se o padrão de conectividade entre o córtex somatossensorial primário (do inglês, primary somatosensory córtex [PSC ou S1]) e a substância cinzenta periaquedutal (do inglês, periaqueductal gray matter [PAG]) está relacionado aos sintomas clínicos, em pacientes respondedoras e não respondedoras ao CPMtest. Nesse estudo, foram incluídas 33 mulheres com FM, classificadas como não respondedoras (n = 13) e respondedores (n = 20) ao teste de CPM. Na análise em que comparamos respondedoras e não respondedoras com um modelo linear generalizado, identificamos que não respondedoras apresentaram diminuição da CFI entre o PSC e a PAG (χ2 =10,41; DF = 1; p < 0,001). A CFI S1-PAG no hemisfério cerebral esquerdo foi positivamente correlacionada aos níveis de sintomas de sensibilização central e negativamente correlacionada à qualidade do sono e aos escores de dor. A análise com ROC mostrou que a CFI entre o S1-PAG oferece sensibilidade e especificidade de 85% ou mais (AUC 0,78; IC 95% 0,63-0,94) para discriminar respondedoras de não respondedoras ao CPM-test. Os achados desses estudos mostram que os sintomas cardinais da FM e marcadores de neuroplasticidade predizem a disfunção do SMDD, assim como os padrões de CFI em estado de repouso no S1-PAG podem ser potenciais marcadores para predizer a resposta à tarefa da CPM. Esses dados podem auxiliar na identificação de perfis para o planejamento individualizado do tratamento de pacientes com fibromialgia. ...
Abstract
Fibromyalgia (FM) is a syndrome characterized by generalized musculoskeletal pain, fatigue, non-repairing sleep, cognitive, and neurovegetative changes, with multiple and complex neurobiological processes. Despite being a significant disease, it often does not receive attention from the organs that define health care policies. The population prevalence, according to the criteria of the American Society of Rheumatology, reaches 5.4%, and the expenses arising from care, taxes and disability antic ...
Fibromyalgia (FM) is a syndrome characterized by generalized musculoskeletal pain, fatigue, non-repairing sleep, cognitive, and neurovegetative changes, with multiple and complex neurobiological processes. Despite being a significant disease, it often does not receive attention from the organs that define health care policies. The population prevalence, according to the criteria of the American Society of Rheumatology, reaches 5.4%, and the expenses arising from care, taxes and disability anticipation are estimated at more than 29 billion dollars per year in the US. Failure of pharmacological therapies occurs in about 50% of patients. These high failure rates are postulated partly due to a lack of knowledge about the pathophysiological mechanisms. The mechanism that permeates the set of symptoms that configure FM is the central sensitization syndrome (CSS), which is characterized by distress, sleep disturbances, fatigue, pain, allodynia, and hyperalgesia. This condition has as pathophysiological mechanism the impaired nociceptive functioning of neurons and circuits, increasing the receptive field and reduction of excitation mechanisms. Another critical factor in CCS is the dysfunction of the descending pain modulatory system (DPMS), which can be assessed using the conditioned pain modulation test (CPM test). This test can classify participants as responders and nonresponders, where in this last group, t mechanism of pain inhibition is dysfunctional. Neuroimaging studies have shown there are changes in the brain connectivity in FM patients, mainly among the pain neuromatrix and in the DPMS. Among the neuroimaging techniques, the functional magnetic resonance imaging (fMRI) in resting-state (rs-fMRI) stands out in assessing intrinsic connectivity (IFC). In order to understand clinical, laboratory and neuroimaging factors that could discriminate SMDD dysfunction, two studies were developed. In the first study, we sought to identify whether a set of FM symptoms and neuroplasticity biomarkers could constitute a composite severity index and whether it would have discriminatory power to identify responders and non-responders to the CPM test. In this crosssectional study, 117 women with FM (n = 60) non-responders and (n = 57) responders, aged between 30 and 65 years, were included. Assessment of DPMS by the CPM test was assessed by changes in Numerical Pain Scale (NPS-10) scores using a standardized protocol. Hierarchical multivariate logistic regression analysis was used to construct a propensity scoreadjusted index to identify non-responders compared with CPM test responders. The models maintained the following variables: analgesic use four or more times a week, heat pain threshold (HPT), poor sleep quality, pain catastrophizing, serum BDNF levels, number of psychiatric diagnoses and the impact of FM symptoms on quality of life. The receiver operating characteristic curve (ROC) showed that non-responders could be distinguished from responders by an index composed of FM symptoms combined with neuroplasticity markers (area under the curve (AUC) = 0.83, sensitivity = 100% and specificity). = 98%). The second study evaluated IFC patterns between brain pain processing networks and DPMS using rs-fMRI in FM patients. In addition, we investigated whether the connectivity pattern between the primary somatosensory cortex and the periaqueductal gray is related to clinical symptoms in CPM-test responders or non-responders. In this study, 33 women with FM were classified as nonresponders (n=13) or responders (n=20) to the CPM test. In the analysis that compared responders and non-responders with a generalized linear model (GLM), we identified that nonresponders showed a decrease in IFC between the PSC and the PAG [(χ2 =10.41, DF = 1 p < 0.001)]. IFC S1-PAG in the left cerebral hemisphere was positively correlated with levels of central sensitization symptoms and negatively correlated with sleep quality and pain scores. ROC analysis showed that the IFC between S1-PAG offers sensitivity and specificity of 85% or greater [AUC 0.78, 95% confidence interval (CI), 0.63-0.94] to discriminate responders from non-responders. Respondents to the CPM test. Findings from these studies show that cardinal symptoms of FM and neuroplasticity markers predict DPMS dysfunction and resting-state IFC patterns in S1-PAG may be potential markers for predicting CPM task response. These data can help identify profiles for individualized treatment planning for patients with fibromyalgia. ...
Institución
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas.
Colecciones
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Ciencias de la Salud (9084)Ciencias Médicas (1556)
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