A experiência da migração forçada e seus impactos sobre a saúde mental: um estudo qualitativo com refugiados venezuelanos acolhidos na cidade de Porto Alegre – RS

Abstract

Introdução: A Venezuela é o segundo país em número de refugiados no mundo: estimase que 4,6 milhões de venezuelanos estão dispersos devido à crise econômica em seu país. Pessoas que foram forçadas a migrar estão expostas a inúmeros fatores de risco para adoecimento psíquico. Há uma escassez na literatura científica de estudos qualitativos relacionados a imigrantes venezuelanos, especialmente a respeito de saúde mental e cuidados psicossociais. Este trabalho tem como objetivo conhecer as experiências migratórias de refugiados venezuelanos no Brasil, na perspectiva de aspectos relacionados a saúde mental. Métodos: Realizamos um estudo exploratório qualitativo, entrevistando seis imigrantes venezuelanos residentes na cidade de Porto Alegre. O questionário contendo perguntas abertas abordou as percepções dos participantes sobre sua história pessoal e o processo migratório. Os dados foram analisados com base na Teoria Fundamentada de Strauss e Corbin. Foram seguidos os Critérios Consolidados para Relato da Pesquisa Qualitativa (COREQ). Resultados: Foram identificadas quatro categorias principais: história de vida, crise na Venezuela, processo migratório e vida no Brasil. A partir de seu conteúdo, emergiram subcategorias e definiram-se os aspectos relacionados a saúde mental e às necessidades de suporte dos participantes. Conclusões: As dificuldades enfrentadas ao longo do processo de imigração apontam para muitas questões relacionadas a saúde mental. Vários fatores de risco e vulnerabilidades para adoecimento psíquico foram identificados ao longo de todo o processo migratório. Modelos de assistência que incluam cuidados que foquem em promover integração social e reforçar capacidade de resiliência podem ser úteis. Políticas públicas que possibilitem a oferta de recursos básicos de vida como acesso a moradia, trabalho e saúde são essenciais para a promoção da saúde mental desses indivíduos.

Introduction: Venezuela is the second country in number of refugees in the world: it is estimated that 4.6 million Venezuelans are dispersed due to the economic crisis in their country. People who were forced to migrate are exposed to numerous risk factors for mental illness. There is a shortage in the scientific literature of qualitative studies related to Venezuelan immigrants, especially regarding mental health and psychosocial care. This work aims to know the migratory experiences of Venezuelan refugees in Brazil from the perspective of aspects related to mental health. Methods: We conducted a qualitative exploratory study, interviewing six Venezuelan immigrants residing in Porto Alegre. The open questionnaire addressed the participants' perceptions about their personal history and the migratory process. Data were analyzed based on the Grounded Theory of Strauss and Corbin, and the Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ) were followed. Results: Four main categories were identified: life history, the crisis in Venezuela, the migratory process, and life in Brazil. From its content, subcategories emerged, and aspects related to mental health and the support needs of the participants were defined. Conclusions: The difficulties faced throughout the immigration process point to many issues related to mental health. Several risk factors and vulnerabilities for mental illness were identified throughout the migratory process. Models of care that include care that promotes social integration and strengthens resilience can be helpful. Public policies that make it possible to offer primary life resources such as access to housing, work, and health are essential for promoting the mental health of these individuals.