Narativa jornalística, agronegócio e Amazônia: peculiaridades do contexto e construção de sentido em jornais de referência

Abstract

Os fenômenos de destruição ambiental na Amazônia brasileira ganharam destaque no debate público nos últimos anos e elevaram as discussões sobre a participação do agronegócio nesse processo. Essa problemática é tensionada por agentes sociais e peculiaridades do contexto brasileiro na atualidade, colocando as narrativas da imprensa sobre o tema também em evidência. Assim, esta pesquisa tem como objetivo geral compreender a construção de sentidos sobre o agronegócio em relação ao desmatamento e às queimadas na Amazônia brasileira na atualidade, a partir de acontecimentos jornalísticos narrados por jornais de referência no ano de 2020, quais sejam: O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Para isso, os objetivos específicos são a) refletir sobre o jornalismo enquanto instância de vigilância social e agente que contribui para a construção da realidade; b) abordar perspectivas que tratam o jornalismo como (re)produtor de narrativas, portanto como instância de produção discursiva inserida num sistema simbólico amplo que consolida as relações humanas; c) evidenciar a cobertura informativa que relaciona o agronegócio ao desmatamento e às queimadas na Amazônia brasileira a partir das significações ofertadas por meio de tensionamentos, vozes e estratégias no texto jornalístico. O percurso de pesquisa é operacionalizado por levantamento bibliográfico (STUMPF, 2010), suporte em análise de conteúdo (BARDIN, 2013) e emprego de uma análise pragmática da narrativa jornalística (MOTTA, 2010, 2013). Os pressupostos teóricos de base vêm da teoria da construção social da realidade (BERGER; LUCKMANN, 2013), das teorias construcionistas do jornalismo (TRAQUINA, 2005), de teorias da narrativa (NUNES, 1995; CULLER, 1999; RICOEUR, 2010) e narrativa jornalística (RESENDE, 2005, 2009, 2011; CARVALHO, 2010a, 2010b, 2012). O universo discursivo exposto no objeto empírico revela o agendamento midiático da relação do agronegócio com a Amazônia, bem como uma construção de sentidos orientada pelos seguintes alinhamentos: agronegócio como setor dividido, visado, principal responsável pelo desmatamento e modelo de produção/modelo institucional, aspecto que se destaca. As narrativas analisadas evidenciam de modo central um processo de argumentação com vistas à desconstrução da imagem do agronegócio e do Brasil como vilões ambientais na realidade amazônica. Concluímos que as narrativas jornalísticas configuram-se como espaços de construção de significações sobre o agronegócio em relação ao desmatamento e às queimadas na Amazônia brasileira e como dispositivos para a construção de um lugar histórico para o setor na atualidade.

The phenomena of environment devastation in Brazilian Amazon have gained prominence in the public debate in recent years and have increased discussions on the participation of agribusiness in this process. This issue is pressured by social agents and peculiarities of the recent Brazilian context, which places the press’ narratives about the subject also in evidence. Therefore, this research aims to understand the construction of significance upon agribusiness in relation to deforestation and to the fires in the Brazilian Amazon today. This analysis is based on journalistic events narrated by leading newspapers in the year 2020, named: O Estado de São Paulo and Folha de São Paulo. To this end, the specific objectives are a) to reflect on journalism as an instance of social surveillance and as an agent that contributes to the construction of reality; b) to approach perspectives that treat journalism as a (re)producer of narratives, hence as an instance of discursive production inserted in a broad symbolic system that consolidates human relations; c) to highlight the media coverage that relates agribusiness to deforestation and to the fires in Brazilian Amazon deriving out of the significance offered through tensions, voices and strategies in the journalistic text. The research trajectory is operationalized by bibliographic survey (STUMPF, 2010), support in content analysis (BARDIN, 2013) and the use of a pragmatic analysis of journalistic narrative (MOTTA, 2010, 2013). The basic theoretical assumption derives from the theory of the social construction of reality (BERGER; LUCKMANN, 2013), from constructionist theories of journalism (TRAQUINA, 2005), from theories of narrative (NUNES, 1995; CULLER, 1999; RICOEUR, 2010) and from journalistic narrative (RESENDE, 2005, 2009, 2011; CARVALHO, 2010a, 2010b, 2012). The discursive universe exposed in the empirical object reveals the media scheduling. The narratives analyzed show, centrally, an argumentation process in order to deconstruct the image of agribusiness and Brazil as environmental villains in the Amazon reality. In conclusion, journalistic narratives are configured as construction spaces of significations about agribusiness in relation to deforestation and to the fires in Brazilian Amazon and as instruments for the construction of a historical place for the sector nowadays.