Doença hepática gordurosa metabólica na atenção primária à saúde : alto risco e baixo diagnóstico

Abstract

Introdução: A doença hepática gordurosa metabólica (DHGM) está associada a distúrbios como obesidade, diabetes e dislipidemia, e atualmente é reconhecida como a hepatopatia mais comum em todo o mundo, acometendo em torno de 25% da população. Recentemente tem sido discutida a implementação de políticas de saúde pública para a sua detecção precoce. Objetivo: Avaliar a prevalência de fatores de risco na atenção primária à saúde (APS), estimando a presença de DHGM. População e Método: Análise retrospectiva de todos os prontuários eletrônicos de pacientes atendidos em APS em uma microrregião de uma capital do sul do Brasil no período de 1 de janeiro de 2015 a 18 de março de 2018. Foram coletados dados demográficos, clínico-farmacológicos, laboratoriais e de imagem para avaliar os perfis glicêmico, lipídico e hepático, bem como a presença da síndrome metabólica (SM). A estimativa da fibrose hepática foi feita pelo escore FIB-4. Resultados: Foram avaliados 12.054 pacientes, 65,4% mulheres, com média de idade de 55,3 anos. Desses, 34,3% eram hipertensos, 40,8%, dislipidemicos e 12,2%, diabéticos. Dentre os 8533 pacientes com exame disponível, glicemia foi > 100 mg/dL em 34,5% e a hemoglobina glicada foi superior a 5,7% em 51,5%. Colesterol total foi solicitado em 5137 casos e níveis > 200mg/dL ocorreram em 40,8%, triglicerídeos foram em 7401 e níveis > 150mg/dL foram descritos em 32,1% da população. Peso e altura foram descritos em 10,7% das consultas, sendo que em 77% dos casos o IMC detectou sobrepeso ou obesidade. Dos 5605 com ALT disponível, em 16,8% das vezes ela estava alterada. Exames de imagem foram solicitados em 12,6% da amostra. Conforme cálculo do escore FIB-4 realizado em 4.022 pacientes, em torno de 5% estavam sob risco de apresentar fibrose avançada e/ou cirrose. Conclusão: É alta a prevalência de fatores de risco para DHGM em APS. O FIB-4 com o ponto de corte de 2,67, associado às elevadas taxas de risco metabólico, indicam que há chance significativa de hepatopatia severa nesta população e corrobora a ideia de que a doença não é percebida adequadamente na porta de entrada do sistema de saúde, do mesmo modo que, mais da metade da população avaliada pelo FIB-4 se beneficiaria do tratamento em APS. Esses achados reforçam serem necessárias capacitações dos profissionais de saúde e protocolos clínicos voltados para estes serviços.

Introduction: Nonalcoholic Metabolic Associated Fatty Liver Disease (MAFLD), such as obesity, diabetes and dyslipidemia is the most common liver disease worldwide, affecting approximately 25% of the population. Recently the implementation of public health policies to detect it has been discussed. Objective: To assess the prevalence of risk factors in primary health care (PHC), estimating the presence of MAFLD. Population and Method: Retrospective analysis of all electronic records of patients seen in PHC in a microregion of a capital in the south of Brazil during the period from January 1, 2015 to March 18, 2018. Demographic, clinical-pharmacological, laboratory and imaging data were collected to evaluate the glycemic, lipidic and hepatic profiles, as well metabolic syndrome (MS). Liver fibrosis was estimated by score FIB-4. Results:12,054 patients,were assessed, 65.4% women, with a mean age of 55.3 years. Of these, 34.3% were hypertensive, 40.8%, dyslipidemic and 12.2%, diabetic. Among the 8,533 patients with available tests, glycemia was > 100 mg/dL in 34.5% and glycated hemoglobin was higher than 5.7% in 51.5%. Total cholesterol was requested in 5,137 cases and levels > 200mg/dL occurred in 40.8%, while triglycerides were in 7,401 and levels > 150mg/dL were described in 32.1% of the population. Weight and height were described in only 10.7% of the consultations, and in 77% of the cases the BMI detected overweight or obesity. Of the 5,605 with ALT available, 16.8% of the times there were changes. Imaging exams were requested for 12.6% of the sample. According to the calculation of the FIB-4 score performed in 4,022 patients, around 5% were at risk of presenting advanced fibrosis and/or cirrhosis. Conclusion: There is a high prevalence of risk factors for MAFLD in PHC. FIB-4, with the cutoff point of 2.67 associated with high rates of metabolic risk indicates that there is a signficant chance of severe liver disease in this population and corroborates the idea that the disease is not adequately perceived at the point of entry to the system, and that likewise, more than half the ppulation assessed by FIB-4 will benefit from treatment in primary health care. These findings support the fact that it is necessary to train health care professionals and to have clinical protocols for these services.