Uso da imagem termográfica para avaliação do tratamento das otites externas em cães

Abstract

A otite externa é uma doença de caráter inflamatório, que cursa com prurido, otalgia, inflamação, produção excessiva de cerúmen e odor fétido. Seu diagnóstico é baseado principalmente no histórico clínico e em exames de citologia auricular e otoscopia, e as mesmas ferramentas costumam ser utilizadas no monitoramento da resposta clínica após a instituição da terapia. Na busca por novos métodos que objetivem o acompanhamento terapêutico, a termografia, técnica não invasiva de mapeamento térmico a partir da radiação infravermelha normalmente emitida pela superfície corporal, se mostra promissora, uma vez que passou a ser explorada nas diversas áreas das medicinas humana e veterinária devido ao seu potencial para o diagnóstico e monitoramento de processos inflamatórios. Este estudo teve como objetivo verificar a viabilidade do uso da imagem termográfica como ferramenta para avaliar a resposta à terapia da otite externa canina. Foram analisadas 48 orelhas de 25 cães que foram incluídos no estudo após serem submetidos aos exames clínico, citológico do conduto auditivo e otoscópico. Os condutos auditivos foram avaliados quanto a presença de eritema, edema, erosão/ulceração e exsudato, e cada alteração foi pontuda de 0 a 3, de acordo com o Índice de Pontuação de Otite (OTIS3). De acordo com o tempo de evolução, as otites foram classificadas em agudas (<3 meses) ou crônicas (≥3 meses). As orelhas com pontuação total ≥4 foram incluídas no estudo. Os pacientes tiveram suas orelhas fotografadas por câmera termográfica na região da face côncava do pavilhão auricular e do poro acústico no dia da inclusão e após o término da instituição da terapia, quando a pontuação do OTIS3 atingiu valor total ≤3. Ao final do tratamento, observou-se diferença significativa na temperatura média da face côncava do pavilhão auricular quando comparada com a temperatura antes de iniciar o tratamento (p<0,001). Ao avaliar individualmente as 48 orelhas, verificou-se que no poro acústico houve redução em 27, aumento em 16 e cinco permaneceram sem alteração. Na face côncava do pavilhão auricular, 36 reduziram as temperaturas médias, 10 aumentaram a temperatura e duas permaneceram sem alteração. Quando classificadas pelo tempo de evolução, houve redução dos valores médios das temperaturas médias do poro acústico e face côncava do pavilhão auricular, porém só as otites crônicas apresentaram significância estatística. As médias dos deltas das temperaturas mostraram que na face côncava do pavilhão auricular dos casos crônicos houve maior amplitude de variação entre as temperaturas antes e após o tratamento. Não houve correlação entre as reduções de temperatura e o OTIS3. A termografia se mostrou promissora principalmente empregando a face côncava do pavilhão auricular como local de avaliação, e nas otites com tempo de evolução crônica, ainda que não tenha se correlacionado com o OTIS3, de modo que a técnica precisa ser aprimorada e padronizada para ser fidedigna e reproduzível.

Otitis externa is an inflammatory disease that causes itching, otalgia, inflammation, excessive production of cerumen and a foul odor. Its diagnosis is mainly based on clinical history and on auricular cytology and otoscopy exams, and the same tools are usually used to monitor the clinical response after the institution of therapy. In the search for new methods aimed at therapeutic monitoring, thermography, a non-invasive technique of thermal mapping from infrared radiation normally emitted by the body surface, shows promise, since it has been explored in the various areas of human and veterinary medicine. due to its potential for the diagnosis and monitoring of inflammatory processes. This study aimed to verify the feasibility of using thermographic imaging as a tool to assess the response to canine otitis externa therapy. We analyzed 48 ears of 25 dogs that were included in the study after being submitted to clinical, cytological and otoscopic exams. The ear canals were evaluated for the presence of erythema, edema, erosion/ulceration and exudate, and each alteration was scored from 0 to 3, according to the Otitis Index Score (OTIS3). According to the time of evolution, otitis were classified as acute (<3 months) or chronic (≥3 months). Ears with a total score ≥4 were included in the study. Patients had their ears photographed by a thermographic camera in the region of the concave face of the auricle and the acoustic pore on the day of inclusion and after the end of the therapy institution, when the OTIS3 score reached a total value ≤3. At the end of the treatment, there was a significant difference in the mean temperature of the concave surface of the auricle when compared to the temperature before starting the treatment (p<0.001). When individually evaluating the 48 ears, it was found that in the acoustic pore there was a reduction in 27, an increase in 16 and five remained unchanged. On the concave surface of the auricle, 36 reduced mean temperatures, 10 increased their temperature and two remained unchanged. When classified by the time of evolution, there was a reduction in the mean values of the mean temperatures of the acoustic pore and concave face of the ear, but only chronic otitis media showed statistical significance. The averages of the temperature deltas showed that in the concave face of the auricle of the chronic cases there was a greater amplitude of variation between the temperatures before and after the treatment. There was no correlation between temperature reductions and OTIS3. Thermography proved to be promising, mainly using the concave face of the auricle as the evaluation site, and in otitis with chronic evolution, although it has not been correlated with OTIS3, so the technique needs to be improved and standardized to be reliable. and reproducible.