Cervos-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) em áreas com maior distúrbio humano são mais noturnos

Abstract

A segregação temporal pode ser uma resposta esperada de mamíferos para evitar distúrbios humanos, através de um aumento na atividade noturna ou uma diminuição no seu nível de atividade. O cervo-do-pantanal habita áreas úmidas na América do Sul, com populações bastante isoladas e ameaçadas pela caça e perda de habitat. Neste estudo, avaliamos a relação de duas métricas de atividade circadiana i) atividade noturna e ii) nível de atividade de diferentes populações de cervo do pantanal com quatro fatores ambientais (índice de influência humana (HII), presença de predadores, presença de caça e latitude). Utilizamos registros de armadilhas fotográficas de seis populações no Brasil e na Argentina. Estimamos os padrões de atividade de cada população usando densidades de probabilidade de kernel para calcular a atividade noturna e o nível de atividade. Ajustamos modelos lineares generalizados com distribuição beta para analisar a relação das métricas de atividade com os fatores ambientais. A atividade noturna variou de 19% a 68% entre as populações e o nível de atividade entre 32% a 68%. Encontramos uma relação positiva entre o HII e a atividade noturna do cervo-do-pantanal, mas nenhuma relação do nível de atividade com as variáveis preditoras. As populações de cervos com maior perturbação humana em seus arredores são mais noturnas, possivelmente como uma plasticidade comportamental para evitar riscos e distúrbios das atividades humanas. Todavia, essas populações não apresentam níveis de atividade mais curtos, o que pode permitir que desempenhem funções vitais como forrageamento e reprodução. De outra perspectiva prejudicial, a manutenção nos níveis de atividade das populações pode ocorrer por consequência do distúrbio humano ao passarem mais tempo procurando locais seguros e vigilantes no decorrer do dia. Com base em nossos modelos de escala de efeito da influência humana na atividade dos cervos, para reduzir os potenciais impactos que as atividades humanas possam causar nas populações de cervo, uma distância mínima de 10km de atividades antrópicas é recomendada para criações de novas unidade de conservação que abriguem a espécie ou gestão das zonas de amortecimento.

Temporal segregation can be an expected response from mammals to avoid human disturbances, through an increase in nocturnal activity or a decrease in their activity level. The marsh deer inhabits wetlands in South America, with populations that are quite isolated and threatened by poaching and habitat loss. In this study, we evaluated the relationship of two circadian activity metrics i) nocturnal activity and ii) activity level of different populations of marsh deer to four environmental factors (human influence index (HII), presence of predators, presence of poaching, and latitude. Camera trap records were used from six populations in Brazil and Argentina. We estimated activity patterns of each population using kernel probability densities to calculate nocturnal activity and activity level. We adjusted generalized linear models with beta distribution to analyze the relationship between activity metrics and environmental factors. Nocturnal activity varied from 19% to 68% among populations and the activity level between 32% to 68%. We found a positive relationship between HII and marsh deer nocturnal activity, but no relationship with the level of activity and the predictor variables. Deer populations with greater human disturbance in their surroundings are more nocturnal, possibly as an behavioral plasticity to avoid risks and disturbances from human activities. Even so, these populations did not present shorter activity levels, which can enable them to perform vital functions such as foraging and reproduction. From another harmful perspective, the maintenance of the activity levels of the populations can occur as a result of the human disturbance as they spend more time looking for safe places and vigilant throughout the day. Based on our scale models of the effect of human influence on deer activity, to reduce the potential impacts that human activities may cause on deer populations, a minimum distance of 10km of anthropic activities is recommended for the creation of new conservation units that have the species or management of the buffer zones.