Os desafios da preservação da pesca cooperativa e da mobilidade urbana entre Tramandaí e Imbé

Abstract

O estuário do rio Tramandaí é cenário de uma interação rara no mundo, a pesca cooperativa. A interação entre pescadores artesanais e botos possui grande importância econômica e sociocultural, visto que dezenas de profissionais dependem da pesca artesanal de tarrafa para o sustento de suas famílias, além de a pesca cooperativa ser uma prática tradicional, aprendida e transmitida entre as gerações de botos e de pescadores artesanais ao decorrer de décadas. Entretanto, como o litoral norte do Rio Grande do Sul é uma área predominantemente turística, nos meses de verão a população de alguns municípios aumenta em até 500%, causando uma grande pressão sobre a infraestrutura e também sobre os ecossistemas costeiros. Um dos principais problemas é o aumento do fluxo de trânsito no entorno da ponte Giuseppe Garibaldi, que liga os municípios de Tramandaí e Imbé, e que nos meses de verão, atua como um ponto de gargalo no trânsito entre as cidades, causando longas filas de engarrafamento. Desde 2003, alguns agentes políticos têm se movimentado para que uma nova ponte entre os municípios fosse construída, sendo aprovada a elaboração de um projeto de traçados alternativos à ponte Giuseppe Garibaldi, com possibilidade de se basear em um projeto de 2005, a avenida do litoral, cujas proposições consistem na construção de quatro alternativas à atual estrutura. Uma nova estrutura rodoviária é apontada como a única solução para os problemas da mobilidade urbana. No entanto, através da revisão bibliográfica em diferentes áreas do conhecimento, pretende-se aqui demonstrar que essa construção ameaça os ecossistemas locais. Para tanto, é proposto um modelo de resolução alternativo dos problemas de mobilidade urbana através do redesenho da malha viária atual, que aproveitaria as estruturas já existentes. Sendo assim, o projeto desenvolvido pelo poder público deve ser amplamente debatido com a sociedade, a fim de não comprometer a pesca artesanal, a população, a pesca cooperativa e o ecossistema local.

The estuary of Tramandai’s river is scenario of a rare interaction in the world: cooperative fishing. The interaction between artesanal fishermen and porpoises has happened for at least 60 years and has great economic importance, since dozens of professionals depend on artisanal net fishing to support their families, and also given that cooperative fishing is a traditional practice, learned and transmitted between generations of porpoises and artisanal fishermen over decades. However, as the northern coast of Rio Grande do Sul is predominantly a tourist area, in the summer months the population of some municipalities increases by up to 500%, causing great pressure on infrastructure and also on coastal ecosystems. One of the main problems, from the urban planning point of view, is the increase in traffic flow around the Giuseppe Garibaldi’s bridge, which connects the municipalities of Tramandaí and Imbé, and that. in the summer months, it acts as a bottleneck in traffic between cities, causing long lines of traffic jams. Since 2003, some political agents have been moving so that a new bridge between the municipalities could be built. In 2018, an amount of BRL 2.8 million was approved for the preparation of a project for alternative routes to the Giuseppe Garibaldi’s bridge. According to political demonstrations and news published in the media, the alternatives will be based on a 2005 project, the c Coastal Avenue, whose propositions consist on the construction of four alternatives to the current structure. The construction of new road structures is seen as the only solution to the problems of urban mobility. However, through the bibliographic review of studies in different areas, the present dissertation intends to demonstrate both the potential threat to local ecosystems that the construction of a new bridge would represent as well as to propose an alternative model of solving the urban mobility problem through the redesign of the current road network, taking advantage of the existing structures. Therefore, it is proposed at the end of this work that the project developed by the government should be widely discussed with society and that alternatives that do not compromise the practice of artisanal fishing, the human population of the region, cooperative fishing, and the local ecosystem have to be taken into consideration.