A esperança que resiste ao caos: a sobrevivência do enclave utópico na distopia Maddaddão de Margaret Atwood

Abstract

A atualidade é atravessada por debates atrelados a cenários apocalípticos e a maioria deles se projeta a partir das deficiências do sistema econômico atual, sendo sua insustentabilidade um dos maiores temores concernentes ao futuro. Nesse entorno, o pensamento acerca dos rumos da sociedade se perpetua e possibilidades distópicas se estabelecem. Esse contexto permeia a distopia contemporânea como subgênero narrativo, a qual retrata uma sociedade em ruínas causadas, precisamente, pela lógica do capitalismo tardio. Contudo, tanto a contemporaneidade quanto as manifestações literárias distópicas atuais não possuem uma visão fatalista sobre o futuro, mas, ao contrário, permitem a esperança de superação da realidade distópica, a qual reside no evitamento desse futuro ou na dissolução do sistema, uma vez implementado. Nesse ínterim, a trilogia MaddAddão se torna interessante por discutir as relações entre utopia e distopia, uma vez que apresenta espaços utópicos e distópicos bem delimitados. Assim, o objetivo desse trabalho é ler a trilogia, composta por Oryx e Crake (2003), O ano do dilúvio (2009) e MaddAddão (2013), com o enfoque na relação entre esses dois espaços. Esse trabalho distingue-se dos anteriores, primeiramente por buscar delimitar os espaços utópicos e distópicos nas obras, cotejando-os respectivamente ao pós-humanismo e ao pós-humanismo crítico. Assim, busca-se nos primeiros capítulos analisar o primeiro momento temporal da narrativa e perceber a interação entre os espaços ocupados pela utopia e pela distopia na sociedade capitalista criada por Atwood. Ainda, entende-se que o segundo momento temporal da narrativa, após a queda do capitalismo, é um momento de ascendente imbricamento entre os valores utópicos e distópicos, os quais se fundem em um espaço que não pode ser relacionado a qualquer um dos conceitos de maneira estanque. Nesse sentido, essa tese busca perceber as tendências das esperanças e temores nas obras, bem como as necessidades de síntese em prol da sobrevivência e como ela se relaciona às problemáticas da sociedade contemporânea.

The present is pervaded by debates linked to apocalyptic scenarios and most of them are projected from the deficiencies of the current economic system, being its unsustainability one of the greatest fears concerning the future. In this environment, the thought about the path of society is perpetuated and dystopian possibilities are established. This context permeates contemporary dystopia as a narrative subgenre, which portrays a society in ruins caused precisely by the logic of late capitalism. However, both contemporaneity and current dystopian literary manifestations do not have a fatalistic view of the future, but, on the contrary, allow the hope of overcoming the dystopian reality, which resides in the avoidance of such a future or in the dissolution of the system, once implemented. Hence, the MaddAddam trilogy becomes interesting for discussing the relationships between utopia and dystopia, as it presents well-defined utopian and dystopian spaces. Hence, the objective of this work is to read the trilogy, composed by Oryx and Crake (2003), The year of the flood (2009), and MaddAddam (2013) focusing on the relationship between these two spaces. This work is distinguished from the previous ones, firstly because it seeks to delimit the utopian and dystopian spaces in the books, comparing them respectively to posthumanism and critical posthumanism. Thus, the first chapter aims to analyze the first temporal moment of the narrative and perceive the interaction between the spaces occupied by utopia and dystopia in the capitalist society created by Atwood. And, it is understood that the second temporal moment of the narrative, after the fall of capitalism, is a moment of progressive overlapping between utopian and dystopian values, which merge in a space that cannot be related to any of the concepts in a monolithic way. In this sense, this dissertation seeks to understand the trends of hopes and fears in the trilogy, as well as the need for synthesis in favor of survival and how it relates to the problems of contemporary society.