Lar : (re)montando a casa da vó

Abstract

A pesquisa “Lar: (re)montando a casa da vó” se originou a partir de um arquivo de vídeos caseiros captados desde o ano de 2005 em um lugar particular, a casa dos avós maternos, constituindo-se de mais de trinta horas de material. Assim, foi desenvolvido um trabalho de forma poética e teórica encontrando referenciais artísticos, filosóficos, científicos que permitiram elaborar uma reflexão sobre o tema do Lar e as ideias que ele suscita: memória, montagem, tempo, lugar, espaço, cinema, vídeo, arquivo, afeto. O livro “Matéria e Memória: relações entre o corpo e o espírito” do filósofo Henri Bergson traça bases para a compreensão da memória filosófica e cientificamente, e de suas funcionalidades e de seus respectivos processos de aquisição. Nos atuais estudos sobre o assunto, como nas neurociências, algumas ideias de Bergson seguem em vigor. Se por um lado Bergson, ao analisar a percepção, conecta-a ao movimento, por outro, o fenomenólogo Gaston Bacherlad, em seu livro “A poética do espaço”, relaciona-a ao conteúdo. Mesmo que distintas em um princípio, ambas concepções são pertinentes para o estudo do audiovisual, como já advertia Gilles Deleuze, e por tanto imprescindíveis para refletir sobre a poética do vídeo nas artes. A ideia de espaço, que é afetivo no caso de Bachelard, ganha o terreno da relação com o outro quando analisada a partir do pensamento do teólogo e historiador Michael de Certeau no livro “A invenção do cotidiano” no qual desenvolve uma diferenciação entre espaço e lugar que o leva a concluir que “o espaço é um lugar praticado”. Tal entendimento fornece subsídios para analisar as videoinstalações “Lar: Degrau” (2012) e “Lar: Degrau e Escada” (2013) e o vídeo “Depois do almoço de domingo” (2012)- resultados da prática poética dessa pesquisa - apresentadas em situações muitas vezes opostas. Alguns artistas, como Jonas Mekas, Bill Viola, Cao Guimarães, Stan Brakhage, Hélio Fervenza, Marie Menken, Rodrigo Johon são referências teóricas e/ou artísticas que se entrelaçam constituindo um histórico, uma espécie de familiaridade, das relações entre o fazer e o pensar mediadas por percepções particulares.

A search for “Home: (re) assembling grandmother’s house” originated from an archive of home videos captured since 2005 in a particular place, the house of his maternal grandparents, constituting more than thirty hours of material. Thus, a work of poetic and theoretical way finding artistic, philosophical, scientific references that permitted a reflection on the theme of Home and the ideas he raises: memory, montage, time, place, space, cinema, video, file and affection were developed. The book “Matter and Memory: relationships between the body and the spirit” of the philosopher Henri Bergson draws bases for understanding the philosophical and scientific memory, and their features and their acquisition processes. In the current studies on the subject, as in neuroscience, some ideas from Bergson follow into force. If on one side Bergson, to analyze the perception, connects to the movement, on the other, the phenomenologist Gaston Bacherlad, in his book “The poetics of space”, relates to the content. Even though on a different principle, both concepts are relevant to the study of audiovisual, as I warned Gilles Deleuze, and therefore essential to reflect on the poetics of the video in the arts. The idea of space, which is affective for Bachelard, wins the stage of the relationship with each other when viewed from the thought of the theologian and historian Michael de Certeau in his book “The invention of everyday life” in which develops a distinction between space and place that leads him to conclude that “space is a practiced place.” Such understanding provides subsidies to analyze videoinstallations “Home: Step” (2012) and “Home: Step and Ladder” (2013) and the video “After the Sunday’s lunch” (2012) - results of the poetic practice of this research - presented in situations often contradictory. Some artists such as Jonas Mekas, Bill Viola, Cao Guimarães, Stan Brakhage, Hélio Fervenza, Marie Menken, Rodrigo John are theoretical and / or artistic references that intertwine forming a history, a kind of familiarity, the relationship between the making and the thinking mediated by particular perceptions.