Caracterização do receptor de arginina vasopressina (AVPR1b) em primatas do novo mundo (PRIMATA, PLATYRRHINI) : implicações evolutivas

Abstract

Os primatas do Novo Mundo (pNM; Primata, Platyrrhini) apresentam uma série de características consideradas incomuns entre mamíferos eutérios, sobretudo o sistema monogâmico, o cuidado paterno direto e gestações gemelares. Como consequência, o estudo destes primatas emerge como uma ferramenta inestimável para a descoberta do repertório genético subjacente a estes traços. Recentemente, nosso e outros grupos de pesquisa descreveram variantes táxon-específicas do neuropeptídeo oxitocina (OXT) em pNM, o qual contrasta com a rigorosa conservação evolutiva do neuropeptídeo homólogo, a arginina vasopressina (AVP), no mesmo grupo de animais. Algumas variantes de OXT têm sido associadas com as características comportamentais acima mencionadas, e suas funcionalidades foram recentemente demonstradas por nosso grupo de pesquisa. As funções de OXT e AVP são mediadas pela interação com receptores acoplados à proteína G (OXTR; AVPR1a, AVPR1b e AVPR2); consequentemente, a avaliação da variabilidade dos genes receptores torna-se fundamental para a compreensão da função e evolução do sistema como um todo. Este trabalho descreve a variabilidade da região codificadora do gene AVPR1b em espécies de pNM. Estudos comportamentais sugerem um papel central significativo deste receptor na modulação do estresse, agressividade, ansiedade e comportamento social em mamíferos eutérios. Nossos resultados indicam que a evolução molecular do AVPR1b pode ser explicada por modelos que assumem seleção positiva, apesar de um número significativo de sítios (20%) possuir assinaturas de relaxamento da pressão seletiva; isto denota a existência de regiões do gene cuja evolução é compatível com o modelo de neutralidade/pré-adaptativo. Considerando o papel conhecido do AVPR1b, sugerimos que algumas das alterações descritas neste trabalho para os Platyrrhini possam consistir em componentes do repertório genético subjacente à rede complexa de mecanismos neuroendócrinos associados ao eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), de modo que podem ter promovido a emergência de comportamentos vantajosos como o cuidado paterno direto em espécies socialmente monogâmicas, caracterizadas também por um diminuto tamanho corporal e gestações gemelares.