O impacto da exacerbação pulmonar infecciosa grave sobre a massa livre de gordura em adultos internados com fibrose cística

Abstract

Introdução: A fibrose cística (FC) é uma doença multissistêmica na qual o acometimento pulmonar com a presença de exacerbações recorrentes em longo prazo pode trazer prejuízos funcionais com piora do prognostico. Nesse processo a manutenção do estado nutricional adequado é um dos objetivos terapêutico e um desafio importante. Pacientes com FC vivenciam um estado inflamatório e catabólico de fase aguda contínuo que pode induzir a piora da composição corporal e do estado nutricional, os quais estão frequentemente associados com a piora da função pulmonar e da sobrevida. Objetivo: Avaliar o impacto da exacerbação pulmonar infecciosa grave sobre a massa livre de gordura (MLG) e sobre o índice de massa livre de gordura (IMLG) em adultos com FC que necessitaram de internação hospitalar. Analisar também fatores associados com este processo. Métodos: Foi realizado um estudo de coorte prospectivo com coleta de dados em até 48 horas da admissão hospitalar e no 14º dia de internação hospitalar no período de janeiro de 2019 a agosto de 2021. Foi realizada avaliação nutricional através da antropometria e da composição corporal (bioimpedância), avaliação do apetite (Escala Visual do apetite - EVA), avaliação do grau da exacerbação pulmonar (Escore de Kanga), avaliação funcional pela espirometria e teste de caminhada de 6 minutos. Foram utilizados também marcadores bioquímicos inflamatórios e que se relacionam com o catabolismo nutricional (cortisol e PCR). Resultados: A comparação dos parâmetros clínicos e nutricionais na internação hospitalar e no 14º dia, em geral, obtiveram melhora. A variação da média do IMLG foi de 15,3 ± 1,9 Kg/m2 para 15,7 ± 2,0 Kg/m2 (p<0,001) e a variação da MLG foi de 41,8 ± 7,3Kg para 43,0 ± 7,8Kg (p<0,001) e para a variação do volume expiratório forçado do primeiro segundo (VEF1) % do previsto a mediana foi de 40,0 (30,0; 53,0) para 45,0 (35,0; 62,0) e p=0,001. A análise de regressão linear multivariada identificou como variável independente significativamente associada com a melhora do IMLG apenas o sexo (B= -1,81, IC 95%= -3,10; -0,51, p=0,008). Já para o acréscimo de MLG foram identificadas duas variáveis independentes significativamente associadas, o sexo (B= -10,38, intervalo de confiança – IC 95%= -14,70; -6,06, p< 0,001); e a capacidade vital forçada (CVF) % do previsto (B=0,13, IC 95%=0,04; 0,23, p=0,006). Conclusões: Ocorreu uma melhora significativa da MLG e do IMLG entre o início da internação e o 14º dia de internação. O sexo e a CVF % do previsto foram responsáveis por prever a melhora da MLG. Já para o IMLG a variável preditiva dessa melhora foi apenas o sexo, sendo o sexo masculino o que teve um maior acréscimo de MLG e no IMLG.

Introduction: Cystic fibrosis (CF) is a multisystem disease in which pulmonary involvement along with recurrent long-term exacerbations can cause functional damage with prognosis aggravation. In this process, the maintenance of an adequate nutrition is one of the therapeutic goals and an important challenge. CF patients experience a continuous acute phase of inflammatory and catabolic state that can induce body composition and nutrition deterioration, which are often associated with aggravated lung function and survival. Objective: To assess the impact of severe infectious pulmonary exacerbation on fat-free mass (FFM) and on the fat-free mass index (FFMI) in adults with CF who required hospital admission. Analyzing associated factors with this process as well. Methods: A prospective cohort study was carried out with data collection within 48 hours of hospital admission, on the 14th day of hospitalization from January 2019 to August 2021. Nutritional assessment was performed using anthropometry and body composition (bioimpedance), appetite assessment (Visual Appetite Scale - VAS), assessment of pulmonary exacerbation degree (Kanga Score), functional assessment by spirometry and a 6-minute walk test. Inflammatory biochemical markers that are related to nutritional catabolism (cortisol and C-Reactive Protein) were also used. Results: the comparison of clinical and nutritional parameters during hospitalization and on the 14th day, in general, showed improvement. The mean variation of the FFMI was from 15.3 ± 1.9 Kg/m2 to 15.7 ± 2.0 Kg/m2 (p<0.001) and the variation of the FFM was 41.8 ± 7.3 Kg to 43 ,0 ± 7.8Kg (p<0.001) and for the variation of the forced expiratory volume in the first second (FEV1) % of predicted the median was from 40.0 (30.0; 53.0) to 45.0 (35 .0; 62.0) and p=0.001. The multivariate linear regression analysis identified only sex as an independent variable significantly associated with improvement in the FFMI (B= -1.81, 95% CI= -3.10; -0.51, p=0.008). As for the increase in FFM, two significantly associated independent variables were identified: sex (B= -10.38, confidence interval – 95% CI= -14.70; -6.06, p< 0.001); and forced vital capacity (FVC) % of predicted (B=0.13, 95% CI=0.04; 0.23, p=0.006). Conclusions: There was a significant improvement in FFM and FFMI between the start of hospitalization and the 14th day of hospitalization. Gender and FVC % of predicted were responsible for predicting FFM improvement. For the FFMI, the predictive variable of this improvement was gender only, with males having the greatest increase in FFM and FFMI.