Características psicológicas parentais e seu impacto sobre o controle glicêmico dos filhos com diabetes mellitus tipo 1

Abstract

A presente tese de doutorado é composta por três estudos referentes às relações entre variáveis de características psicológicas parentais (mãe, pai ou cuidadores) e o controle glicêmico de crianças com diabetes mellitus tipo 1 (DM1), mensurado por meio dos níveis de hemoglobina glicada (HbA1c). No Estudo 1, uma revisão de escopo identificou e discutiu as evidências disponíveis acerca dessas relações em artigos empíricos de texto completo, publicados entre janeiro de 2004 a março de 2019, nas bases de dados PsycINFO e PubMed. Dos 24 artigos analisados, dez deles observaram relações significativas entre as variáveis parentais e o controle glicêmico das crianças, sendo a autoeficácia parental no diabetes e a numeracia parental os principais preditores da HbA1c das crianças. No Estudo 2, foi realizada uma pesquisa transversal e correlacional, onde se analisou as associações entre diferentes variáveis psicológicas dos cuidadores – estresse percebido, bem-estar, estilos parentais na alimentação, autoeficácia parental no manejo do diabetes e numeracia – e o controle glicêmico de crianças entre 3 e 10 anos de idade com DM1, considerando ainda o tempo desde o diagnóstico de DM1 (grupo 1 = entre 6 e 24 meses de doença; grupo 2 = mais de 24 meses de doença). Cento e oitenta e um cuidadores responderam instrumentos padronizados de forma presencial (n = 44), por telefone (n = 100) ou por aplicativo de mensagens de texto instantâneas (n = 37). Análises correlacionais indicaram que entre os primeiros 6 e 24 meses de diagnóstico de DM1 da criança, a alta autoeficácia parental e a baixa experiência de estresse percebido dos cuidadores são relevantes para o bom controle glicêmico infantil; e que após esse tempo as habilidades de numeracia passam a ser mais relevantes para um controle adequado da doença. No Estudo 3, materiais psicoeducativos para famílias de crianças com DM1 foram desenvolvidos em cinco fases: (1) construção de três histórias baseadas em variáveis psicológicas parentais relevantes para o manejo do DM1; (2) avaliação dos materiais por três juízes especialistas; (3) ilustração e diagramação dos materiais; (4) segunda avaliação dos materiais por outros três juízes especialistas; e (5) avaliação dos materiais por cuidadores de crianças com DM1 (n = 22). Os resultados indicaram que os materiais incluem critérios de qualidade em seu processo de elaboração, utilizando uma metodologia sistemática e parcimoniosa, que pode ser utilizada como auxílio na orientação e preparo dos cuidadores de crianças com DM1. No conjunto, como contribuição desta Tese de Doutorado, têm-se o panorama dos efeitos que algumas variáveis parentais exercem no controle glicêmico infantil, os quais poderão ser considerados para a elaboração de intervenções para pais/cuidadores no contexto do DM1 pediátrico no Brasil.

This doctoral thesis is composed of three studies regarding the relationships between variables of parental psychological functioning (mother, father, or caregivers) and glycemic control of children with type 1 diabetes mellitus (T1D), measured utilizing glycated hemoglobin levels (HbA1c). In Study 1, a scoping review identified and discussed the available evidence about these relationships in full-text empirical articles, published between January 2004 and March 2019, in the PsycINFO and PubMed databases. Of the 24 articles analyzed, ten of them observed significant relationships between parental variables and children's glycemic control, with parental self-efficacy in diabetes and parental numeracy being the main predictors of HbA1c in children. In Study 2, cross-sectional and correlational research was carried out, which analyzed the associations between different psychological variables of caregivers – perceived stress, well-being, parenting styles in feeding, parental self-efficacy in managing diabetes and numeracy – and the glycemic control of children between 3 and 10 years of age with T1D, also considering the time since the diagnosis of T1D (group 1 = between 6 and 24 months of diagnosis; group 2 = more than 24 months of diagnosis). One hundred eighty-one caregivers answered standardized instruments in person (n = 44), by phone (n = 100) or by instant text messaging application (n = 37). Correlational analyzes indicated that between the first 6 and 24 months of the child's T1D diagnosis, the high parental self-efficacy and the low experience of perceived stress of caregivers are relevant for good child glycemic control; and that after this time, numeracy skills become more relevant for adequate control of the disease. In Study 3, psychoeducational materials for families of children with T1D were developed in five phases: (1) construction of three stories based on parental psychological variables relevant to the management of T1D; (2) evaluation of materials by three experts judges; (3) illustration and layout of materials; (4) second evaluation of the materials by three other experts judges; and (5) assessment by caregivers of children with T1D (n = 22). The results indicated that the psychoeducational materials include quality criteria in their elaboration process, using a systematic and parsimonious methodology, which can be used as an aid in the orientation and preparation of caregivers of children with T1D. As a whole, as a contribution to this Doctoral Thesis, there is an overview of the effects that some parental variables have on child glycemic control, which may be considered for developing interventions for parents/caregivers in the context of pediatric DM1 in Brazil.