Mobilização e estruturação de competências no trabalho da preceptoria da residência multiprofissional em saúde

Abstract

Introdução: A relevância e a complexidade do trabalho desenvolvido pelos preceptores nos cenários de formação do Sistema Único de Saúde vêm crescendo nos últimos anos, em especial com o aumento da oferta de programas de residência multiprofissional em saúde. Os preceptores são profissionais de saúde que desenvolvem atividades de ensino. Ser preceptor é uma construção cotidiana que exige a mobilização de competências específicas, em ação, porém não se sabe como elas são estruturadas no trabalho da preceptoria. Objetivos: compreender como são estruturadas competências para a prática da preceptoria na residência multiprofissional em saúde. Os objetivos específicos foram: identificar competências para a preceptoria no contexto da residência multiprofissional, dentre as identificadas na literatura; entender como os preceptores desenvolvem competências para a preceptoria, considerando suas experiências formais e informais; conhecer as estratégias de planejamento escolhidas pelos preceptores para o desenvolvimento das atividades de preceptoria; investigar, na perspectiva dos preceptores, a necessidade de formação específica para a preceptoria; identificar facilidades e dificuldades para o desempenho da preceptoria. Percurso metodológico: pesquisa com abordagem qualitativa do tipo estudo de caso. Foram convidados para participar do estudo os preceptores vinculados ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade do Grupo Hospitalar Conceição com no mínimo seis meses de atuação. As estratégias utilizadas para a coleta de dados foram a observação aberta das atividades de preceptoria e a entrevista individual semi-estruturada. Foram realizadas 18 observações a fim de identificar competências para a preceptoria conforme o referencial adotado. Após, foram realizadas 13 entrevistas, as quais foram submetidas à análise de conteúdo do tipo temática. Para responder ao objetivo de compreender o processo de estruturação de competências, foi realizada triangulação dos dados. Resultados e discussão: os resultados permitiram evidenciar a mobilização de competências, tendo sido correlacionadas 33 das 43 competências do referencial. Quanto ao processo de estruturação de competências, foram identificados três grupos de recursos: características pessoais, institucionais e programáticas; a trajetória acadêmica e profissional; e as interações na residência e a colaboração da equipe multiprofissional. O planejamento para o trabalho da preceptoria é orientado por uma combinação das definições previstas para as atividades do Programa e por iniciativas individuais de organização, considerando as possibilidades identificadas nos núcleos profissionais e nas próprias equipes. A necessidade de formação específica para a preceptoria foi evidenciada em posicionamentos a respeito da configuração desta formação e dos conteúdos pertinentes. Aspectos facilitadores foram relacionados às características pessoais, à organização da instituição e ao apoio da equipe de trabalho. As dificuldades relatadas se referem à necessidade de maior apoio institucional, de tempo protegido para as atividades e de formação específica. Considerações finais: este estudo permitiu compreender como são mobilizadas e estruturadas competências para a prática da preceptoria, tendo sido identificados recursos provenientes de características pessoais e das relações instituídas bem como aqueles constituídos por saberes. Os desafios pedagógicos e a necessidade de planejamento são presentes e as capacitações voltadas a suprir demandas educacionais são pertinentes e atuais, enunciando outras necessidades de formação e de preparo para a preceptoria. O pressuposto inicial da investigação foi confirmado, demonstrando a complexidade da combinação de recursos que são a base para a mobilização de competências para a preceptoria.

Introduction: The relevance and complexity of the work developed by the preceptors in the Brazilian Health Care System's formation scenarios have been growing in recent years, mainly with the increased offer of multiprofessional health residency programs. Preceptors are healthcare professionals who develop educational activities. Being a preceptor is a daily process that requires the mobilization of specific competencies in action, however it is unknown how they are structured in the work of preceptorship. Objectives: To understand how competencies are structured for the practice of preceptorship in a multiprofessional health residency. The specific objectives were: to identify competencies for preceptorship in a multiprofessional health residency context, among those identified in the literature; to understand how preceptors develop competencies for preceptorship, considering their formal and informal experiences; to know the planning strategies chosen by the preceptors for the development of preceptorship activities; to investigate from the preceptors' perspective the need for specific training for preceptorship; to identify strengths and weaknesses for the performance of preceptorship. Methods: a case study with qualitative approach was developed. The preceptors linked to the Multiprofessional Health Residency Program in Family and Community Health of Grupo Hospitalar Conceição with at least six months of activity were invited to participate. The strategies used for data collection were open observation of the preceptorship activities and the semistructured individual interview. Eighteen observations were made in order to identify competencies for preceptorship according to the referential adopted. In sequence, 13 interviews were conducted, which were submitted to thematic content analysis. To answer the objective of understanding the process of structuring competencies, data triangulation was conducted. Results and discussion: the results made it possible to highlight the mobilization of 33 of the 43 competencies. Regarding the competencies structuring process, three groups of resources were identified: personal, institutional and programmatic characteristics; the academic and professional trajectory; and the interactions and collaboration within the residency and multiprofessional team. Planning for preceptorship practice is guided by a combination of definitions provided by the Program activities and by individual initiatives of organization, considering the possibilities identified in the professional nuclei and in the teams themselves. The need for specific training for preceptorship was evidenced in positions regarding the configuration of this training and the relevant contents. Facilitating aspects were related to personal characteristics, organization of the institution and support from the work team. The reported difficulties refer to the need for greater institutional support, protected time for activities and specific training. Conclusions: this study made it possible to understand how the competencies are mobilized and structured for the preceptorship practice, having identified resources from personal characteristics and from the relationships established, as well as those constituted by knowledge. Pedagogical challenges and the need for planning are present and the training aimed at meeting educational demands are pertinent and up-to-date, enunciating other training and preparation needs for preceptorship. The initial assumption of the investigation was confirmed, demonstrating the complex combination of resources that are the basis for the mobilization of competencies for preceptorship.