Os mundos que o "desenvolvimento" (des)integra : dinâmicas do lugar induzidas pela mineração da empresa VALE S. A. em Moatize, Moçambique

Abstract

O objetivo geral desta pesquisa é analisar as dinâmicas da instalação, do desenvolvimento e do início da produção da mina da empresa Vale em Moatize, província de Tete, Moçambique, e a sua articulação com o “discurso de desenvolvimento”. Busca-se identificar as estratégias de operacionalização e de contestação ao projeto mineiro, suas formas de sujeição e o conjunto de práticas levadas a cabo pelos atores afetados pela mineração da empresa, bem como seus efeitos políticos para a desestabilização de tal discurso. A pesquisa de campo etnográfica, associada a distintas técnicas de pesquisa, foi realizada na vila e no posto administrativo de Moatize, entre os meses de março e julho de 2018. Alicerçada na abordagem pós-estruturalista (FOUCALUT, 1996; ESCOBAR, 1996; 2010a; 2010b; 2016; GIBSON-GRAHAM, 1998; 2011; MUDIMBE, 2012), a pesquisa desvela que, no empírico em questão, tratando-se da etapa inicial da mineração (implantação e abertura da mina) a céu aberto, não pode haver coabitação com outras formas de habitar o lugar, levando a cabo o deslocamento compulsório da população afetada pela mina, de maneira que ocorre a produção discursiva de relações de inerência entre a mineração e o “desenvolvimento”, o que se faz acompanhar de técnicas de produção de dados, de classificação e de tipificação dos atores e do seu conjunto de práticas com vistas à sua compensação. A produção de dados sobre o diagnóstico socioeconômico e as formas de habitar da população afetada, bem como sua lógica de (a)normalidade, ao mesmo tempo que teve o efeito de confirmar a necessidade da instituição de novas práticas no lugar e de atividades de subsistência e a sua relação direta com as formas capitalistas de gestão da vida, também teve o “efeito real” de desintegrar o conjunto de práticas dos atores e suas economias diversas historicamente constituídas no lugar enquanto parte integrante do vale do rio Zambeze. Todavia, os questionamentos sobre a qualidade das casas, a recusa da população em receber algumas infraestruturas construídas e a aceitação da empresa na sua reabilitação, além do fracasso de algumas atividades de geração de renda implementadas, o abandono das novas casas, o desemprego e a constante negociação entre os afetados e a empresa, revelam a eclosão de uma nova pauta dos afetados para colocar em xeque o horizonte social aberto pelo “discurso de desenvolvimento”.

The overall objective of this research is to analyze the dynamics of the installation, development and the start of production of Vale’s company mine in Moatize, Tete province, Mozambique, and its articulation with the “development discourse”. It seeks to identify the operationalization strategies and challenges to the mining project, its forms of subjection and the set of practices carried out by the mining company's affected actors, as well as its political effects on the destabilization of such discourse. The ethnographic research is associated with different techniques and took place in the village and in the administrative post of Moatize, between March and July 2018. Based on the post-structuralist approach (FOUCALUT, 1996; ESCOBAR, 1996; 2010a; 2010b; 2016; GIBSON-GRAHAM, 1998; 2011; MUDIMBE, 2012), the research reveals that in the empirical case, dealing with the initial stage of mining (implementation and opening of the mine) in the open, it cannot cohabitate with other ways of inhabiting the place, leading to the compulsory displacement of the population affected by the mine and the discursive production of inherent relationships between mining and “development”, which is accompanied by techniques of data production, classification and categorization of actors and their set of practices with regard to their compensation. The production of data on the socioeconomic diagnosis and on the ways of inhabiting by the affected population, as well as its logic of (a)normality, at the same time it had the effect to confirm the need for the establishment of new practices and subsistence activities, and its direct relationship with capitalist forms of life management, it also had the “real effect” of disintegrating the set of practices of the actors and their diverse economies historically constituted in the place, being an integral part of the Zambeze river valley. However, criticism regarding the quality of homes, the refusal of the population to receive some of the built infrastructure and the acceptance of the company in its rehabilitation, as well as the failure of some of the income-generating activities implemented, the abandonment of new homes, the unemployment and the constant negotiation between those affected and the company reveal the emergence of a new agenda by the affected to call into question the social horizon opened by the “development discourse”.

El objetivo general de la investigación es analizar la dinámica de la instalación, el desarrollo y el inicio de la producción de la mina de la empresa Vale en Moatize, provincia de Tete, Mozambique, y su articulación con el “discurso del desarrollo”. Se propone identificar las estrategias de operacionalización y disputa al proyecto minero, sus formas de sujeción y el conjunto de prácticas llevadas a cabo por los actores afectados por la minería de la empresa, así como sus efectos políticos en la desestabilización de dicho discurso. La investigación etnográfica se ha asociado con diferentes técnicas de investigación que tuvo lugar en el pueblo y en el puesto administrativo de Moatize entre marzo y julio 2018. Basado en el enfoque teórico post-estructuralista (FOUCALUT, 1996; ESCOBAR, 1996; 2010a; 2010b; 2016; GIBSON-GRAHAM, 1998; 2011; MUDIMBE, 2012), la investigación revela que en el empírico en cuestión, siendo la etapa inicial de la minería (implementación y apertura de la mina) al cielo abierto, que no puede cohabitar con otras formas de habitar el lugar para llevar adelante el desplazamiento obligatorio de la población afectada por la mina, se produce la producción discursiva de relaciones inherentes entre la minería y el “desarrollo”, que va acompañada de técnicas de producción de datos, la clasificación y tipificación de los actores y su conjunto de prácticas con vistas a su compensación. La producción de datos sobre el diagnóstico socioeconómico y las formas de habitar la población afectada y su lógica de (a)normalidad al mismo tiempo que tuvieron el efecto y confirman la necesidad de establecer nuevas prácticas en marcha, actividades de subsistencia y su relación directa con las formas capitalistas de gestión de la vida, también tuvo el “efecto real” de desintegrar el conjunto de prácticas de los actores y sus economías, como parte que integra el valle del río Zambeze. Sin embargo, el cuestionamiento sobre la calidad de los hogares, la negativa de la población a recibir alguna infraestructura construida y la aceptación de la empresa en su rehabilitación, el fracaso de algunas actividades de generación de ingresos implementadas, el abandono de nuevos hogares, el desempleo y la negociación constante entre los afectados y la empresa revelan el surgimiento de una nueva agenda de los afectados para poner en cuestión el horizonte social abierto por el “discurso del desarrollo”.