O metadocumentário como tecnologia cognitiva para experienciar o conhecimento como enação

Abstract

Esta tese articula as áreas da cognição, da tecnologia e do cinema documentário para compreender de que forma os documentários metalinguísticos nos dão a chance de pesquisar o conhecimento de forma não representacionista, pela lente da enação. O cinema metadocumental é uma prática ético-estética que envolve a reflexão sobre o fazer na produção deste mesmo fazer, possibilitando pesquisar o audiovisual pelo primado da experiência, a partir da ação dos agentes envolvidos, sejam eles humanos ou objetos técnicos. Para responder à questão proposta pela tese, a estratégia de pesquisa foi produzir e realizar o metadocumentário Julieta. O filme problematiza o fazer documental relacionado à memória ligada às ancestrais da pesquisadora. O encadeamento dos conceitos teóricos e a experiência das ações cognitivas envolvidas neste fazer foi feito a partir dos procedimentos da cartografia (diários de campo) e da prática documental (sinopse/argumento, tratamento, decupagem, roteirização). Ao longo da pesquisa reunimos pistas para avaliar que o documentário e suas práticas pode ser compreendido como tecnologia cognitiva para conhecer, podendo ser explorado de maneira ampliada na educação, não restrito ao ensino formal. Pressupomos ainda que o metadocumentário visibiliza o processo cognitivo como um saber não individualizado de quem o produz, ao mesmo tempo que incorporado e autopoiético, sendo origem e efeito do que está sendo pesquisado. As articulações com a cognição social nos deram pistas para pensar no metadocumentário, como narrativa que problematiza os acoplamentos tecnológicos e as produções de sentido participativas do processo inerente a qualquer ação cognitiva. Por fim, defendemos que a metodologia empregada para a pesquisa desta tese, e que tem o audiovisual como objeto e procedimento, possa ser explorada para o estudo de outras áreas, não restritas ao documentário.

This thesis articulates the areas of cognition, technology and documentary filmmaking to understand how metalinguistic documentaries give us the chance to research knowledge in an non representational way through the lens of enaction. Meta-documentary cinema is an ethicalaesthetic practice that involves reflection on doing in the production of this same doing, making it possible to research audiovisual through the primacy of experience, from the action of the agents involved, whether human or technical objects. To answer the question proposed by the thesis, the research strategy was to produce and make the Julieta meta-documentary. The film problematizes the documentary making related to the memory linked to the researcher's ancestors. The chaining of the theoretical concepts and the experience of the cognitive actions involved in this practice was made from the cartography procedures (field diaries) and the documentary practice (synopsis / argument, treatment, decoupage, scripting).Throughout the research we gathered clues to evaluate that the documentary and its practices can be understood as cognitive technology to know, and can be explored broadly in education, not restricted to formal education. We also assume that meta-documentary makes the cognitive process visible as non-individualized knowledge of those who produce it, while being incorporated and autopoietic, being the origin and effect of what is being researched. The articulations with social cognition gave us clues to think about meta-documentary, as a narrative that problematizes the technological couplings and participatory meaning productions of the process inherent in any cognitive action. Finally, we argue that the methodology used for the research of this thesis, which has the audiovisual as object and procedure, may be explored for the study of other areas, not restricted to the documentary.