Aporias da memória : em o impostor, de Javier Cercas
Fecha
2019Nivel académico
Maestría
Tipo
Materia
Resumo
O presente trabalho toma como objeto de investigação um dos livros do romancista espanhol Javier Cercas, intitulado O impostor. Publicado em 2014, trata-se de uma obra que narra a vida do falsário Enric Marco Batlle, um homem que por quase trinta anos se fizera passar por um resistente ao franquismo e um sobrevivente dos campos de concentração nazistas. Para além disso, Javier Cercas procura traçar alguns paralelos entre a impostura de seu protagonista e a onda memorial na Espanha. Assim, o obj ...
O presente trabalho toma como objeto de investigação um dos livros do romancista espanhol Javier Cercas, intitulado O impostor. Publicado em 2014, trata-se de uma obra que narra a vida do falsário Enric Marco Batlle, um homem que por quase trinta anos se fizera passar por um resistente ao franquismo e um sobrevivente dos campos de concentração nazistas. Para além disso, Javier Cercas procura traçar alguns paralelos entre a impostura de seu protagonista e a onda memorial na Espanha. Assim, o objetivo deste estudo é o de analisar as teses históricas desenvolvidas em O impostor. Tratam-se de teses que, por um lado, relacionam o protagonista do livro à maioria da população espanhola e, por outro, querem saber de que forma a impostura memorial sobre a qual se discorre pôde perdurar de 1978 a 2005. Investigou-se, então, de que modo essa “maioria” é construída, em quais argumentos se embasam as teses históricas de Javier Cercas e se tais hipóteses concorrem para uma confrontação e eventual elaboração em nível coletivo de um passado recente povoado por traumas. A fim de oferecer respostas a estas questões, foi preciso defrontar-se com as temáticas que aparecem ao fundo das teses históricas de Cercas, a saber: os efeitos sociais da guerra civil e do franquismo na Espanha atual, a valorização da figura da testemunha, o boom memorial e, por fim, a relação entre história e memória. E uma vez que tais temáticas são igualmente caras à historiografia do tempo presente, empreendeu-se primeiro uma discussão teórica acerca destes temas. Visando tornar mais exequível o escrutínio de O impostor a partir dos campos da teoria da história e da história do tempo presente, optou-se por lê-lo como um texto-investigação. Este conceito permite coadunar uma série bastante heterogênea de textos, sejam os das ciências humanas em geral, sejam os da literatura, unidos pela preocupação de compreender o passado recente e de formular hipóteses acerca deste mesmo passado. Buscou-se demonstrar também que tanto a história como a literatura são capazes de amplificar e dar visibilidade às discussões sobre traumas coletivos e de contribuir para o reconhecimento e a elaboração destes traumas. As análises que constituíram este estudo desaguam finalmente na hipótese de que, em que pese a abordagem frontal da temática candente dos passados traumáticos e do frenesi memorial, as teses históricas de Javier Cercas, pelo rasgo pejorativo que apresentam, possuem pouco valor explicativo. Parecem não oferecer a seu leitor uma chave interpretativa capaz de enxergar o pretérito em sua complexidade e dinamismo, aportando pouco para a superação das feridas históricas que são, em última instância, o pano de fundo do livro. ...
Abstract
The present work takes as object of investigation one of the books of the Spanish novelist Javier Cercas, titled The impostor. Published in 2014, it is a work that tells the life of the forger Enric Marco Batlle, a man who for almost thirty years had made himself a FrancoResistant man and a survivor of the Nazi concentration camps. In addition, Javier Cercas tries to draw some parallels between the imposture of its protagonist and the wave of memory in Spain. Thus, the objective of this study i ...
The present work takes as object of investigation one of the books of the Spanish novelist Javier Cercas, titled The impostor. Published in 2014, it is a work that tells the life of the forger Enric Marco Batlle, a man who for almost thirty years had made himself a FrancoResistant man and a survivor of the Nazi concentration camps. In addition, Javier Cercas tries to draw some parallels between the imposture of its protagonist and the wave of memory in Spain. Thus, the objective of this study is to analyze the historical theses developed in The impostor. These are theses that, on the one hand, relate the protagonist of the book to the majority of the Spanish population and, on the other hand, they want to know in what way the memorial imposture on which it is argued could last from 1978 to 2005. It was investigated, then, in what way is this "majority" constructed, in which arguments are the historical theses of Javier Cercas based and if such hypotheses contribute to a confrontation and eventual elaboration at a collective level of a recent past populated by traumas. In order to offer answers to these questions, we had to confront the themes that appear in the background of the historical theses of Cercas, namely the social effects of the civil war and the Franco regime in Spain today, the valorization of the figure of the witness, the memorial boom and, finally, the relation between history and memory. And since such themes are equally important to the historiography of the present time, a theoretical discussion about these themes was first undertaken. In order to make the impostor's scrutiny more feasible from the fields of history theory and the history of present time, it was chosen to read it as a text-investigation. This concept allows us to combine a very heterogeneous series of texts, both those of the social sciences in general and those of literature, united by the concern to understand the recent past and to formulate hypotheses about this past. It was also tried to demonstrate that both history and literature are capable of amplifying and giving visibility to the discussions about collective traumas and of contributing to the recognition and elaboration of these traumas. The analysis that constituted this study finally leads to the hypothesis that, despite the frontal approach of the hot topic of the traumatic past and the memorial frenzy, the historical theses of Javier Cercas, due to the pejorative feature they present, have little explanatory value. They do not seem to offer their reader an interpretive key capable of seeing the past in its complexity and dynamism, contributing little to overcoming the historical wounds that are, in the last analysis, the background of the book. ...
Institución
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em História.
Colecciones
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Ciencias Humanas (7479)Historia (653)
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