Tornar-se avó e a transmissão transgeracional no contexto da maternidade na adolescência

Abstract

A relação com a família de origem e, em especial, com a própria mãe tem sido apontada como um dos fatores associados à ocorrência da gravidez e maternidade na adolescência. A fim de compreender melhor as particularidades dessa situação foram realizados dois estudos. O Estudo I investigou as expectativas e sentimentos sobre o tornar-se avó no contexto da gravidez adolescente. Participaram do Estudo I dez futuras avós, com idade entre 32 e 51 anos (M=42,1; dp=8,74), cujas filhas adolescentes estavam no terceiro trimestre de gestação do primeiro filho. Foi utilizado um delineamento de estudo de caso coletivo onde os relatos das participantes foram submetidos à análise de conteúdo e agrupados considerando diversas categorias. Os resultados revelaram sentimentos de inadequação entre a idade cronológica e o tornar-se avó; sentimentos maternais em relação ao neto e preocupação em não interferir na maternidade da filha; bem como a dispensa do exercício de autoridade em relação ao neto, sendo que questões do próprio passado pareceram exercer importante influência nesta experiência. O Estudo II investigou a transmissão transgeracional avó materna-mãe adolescente considerando o conceito de lealdade familiar. Participou do estudo uma dupla mãe-filha cuja filha se encontrava no terceiro trimestre de gestação quando da primeira etapa de coleta de dados. Foi realizado um estudo de caso único, de caráter longitudinal cujas coletas de dados se deram durante o terceiro trimestre de gestação, após os três e 12 meses de vida do bebê. Os relatos das participantes foram submetidos à análise de conteúdo com base em um conjunto de categorias. Os resultados revelaram dependência mútua entre mãe e filha que pareceu interferir na maneira como ambas vivenciavam como mãe/avó e filha/mãe a chegada do bebê, o que se verificou através de fronteiras relacionais difusas e distribuição de papéis conforme gênero, permeados pela contabilidade de obrigações e méritos daquela família que antecediam a situação de gravidez e contribuíram para sua ocorrência. A partir dos dois estudos, verificou-se que no contexto da gravidez na adolescência a jovem e sua mãe sofrem com acúmulo de tarefas evolutivas, o que interfere nos respectivos processos de individuação e no realinhamento geracional. Assim, sugere-se que intervenções devam contemplar não só a adolescente gestante/mãe, mas demais atores envolvidos na situação de gravidez, particularmente a avó.

Relationship with the family of origin and particularly with mother, has been identified as a factor associated with teenage pregnancy and motherhood. In order to understand particularities of adolescent pregnancy from a family perspective, two studies were carried out. Study I investigated expectations and feelings about becoming a grandmother in the context of adolescent pregnancy. Participants were ten grandmothers to be, aged 32 to 51 years (M = 42.1, SD=8.74), whose teenage daughters were in the third trimester of their first pregnancy. Multiple-case study design was used. Participants’ answers were analyzed through qualitative content analysis. Results revealed they felt inadequacy between chronological age and becoming a grandmother, maternal feelings towards their grandchild but at the same time they were concerned about not interfering in their daughter’s motherhood. Past issues seemed to have important influence on how grandmothers-to-be experienced their teenage child’s pregnancy. Study II investigated transgenerational transmission considering family loyalty. Participants were a mother-daugther dyad, whose daughter was in the third trimester of pregnancy during the first period of data collection. A single-case study design was used involving three stages of data collection: third trimester of pregnancy, 3 and 12 months of the baby. Participants answers were analyzed through qualitative content analysis. Results showed that mutual dependency between mother and daughter seemed to interfere on how they experienced as mother/grandmother and daughter/mother the baby’s arrival. Relational boundaries sounded diffuse and familiar roles were distributed according to gender, which was permeated by accounting of obligations and merits over situations that preceded teenage pregnancy and contributed to its occurrence. The main finding of both studies was that in the context of teenage pregnancy grandmother and mother seemed to suffer an accumulation of developmental tasks, which interferes in their individuation processes and generational realignment. Thus, it is suggested that interventions should include not only pregnant adolescents/parents, but other people involved on this situation.