Camilles, pierinas e eunices – condenadas pela razão : mulheres, loucura, documentário e ensino de história

Abstract

O objetivo principal desta pesquisa foi desenvolver um documentário que pudesse servir de suporte para problematizar, em sala de aula, como se sedimentaram os papéis e hierarquias de gênero a partir de práticas discursivas e não discursivas sobre a loucura ligada às mulheres tendo como fonte principal o discurso médico psiquiátrico do final do século XIX e início do século XX. Parti de quatro questões principais: por que discutir questões de gênero no ambiente escolar? Por que nas aulas de História? Por que através da abordagem da loucura? Por que a elaboração de um documentário? A partir de oficinas oferecidas aos alunos e alunas de uma turma do Ensino Médio da EJA da Escola Marista Ivone Vettorello, em Porto Alegre/RS, trabalhei com a historicidade dos conceitos de loucura e gênero a partir de casos reais de mulheres que passaram pela experiência da internação manicomial. Examinei também as reverberações da ideia de loucura feminina no presente, por meio, sobretudo, da publicidade, do cinema e de falas do senso comum. A partir desta experiência pedagógica, elaborei, com o auxílio de uma rede de colaboradores, um filme documentário que engloba, entre outros materiais, leituras dramáticas de documentos (cartas e prontuários médicos), entrevistas com historiadoras, relatos de estudantes, narrativas surgidas nas referidas oficinas e produtos da cultura de massa. O trabalho final consiste, pois, neste filme e na presente dissertação contendo as referências teóricas, metodológicas e historiográficas da pesquisa; o relato das oficinas; a narrativa sobre a realização do documentário, bem como o seu roteiro.

The main goal of this research was to develop a documentary which would serve as a support to problematize, in the classrooms, how the gender hierarchies and roles are built up in discursive and non-discursive practices about the madness connected to women, mostly connected to the medical and psychiatric discourse in the late 19th Century and in the beginning of the 20th Century. I developed four main questions: why we should discuss gender problems in the school environment? Why we should discuss them in History classes? Why using the approach of the history of madness? And why creating a documentary about it? From a series of workshops offered to students in a High School class for Young and Adults at the Marista School Ivone Vetorello, in Porto Alegre/RS, I worked with the historicity of the concepts of madness and gender bringing real stories of women who suffered from forced hospitalization in asylums. I also examined the echoes of the idea of female madness in present times, exploring mostly advertising, movie and common-sense speeches. After this pedagogic experience, I elaborated, with the helping hands of a network of partners, a documentary movie that encompasses, among other materials, dramatical readings of the documents (letters and medical profiles), interviews with historians, students personal accounts, narratives that came in the referred workshops and a few mass culture products. The final work consists, therefore, in a movie and in the following dissertation containing all the theoretical, methodological and historiographical references used on the research, and also a report about the workshops, a small narrative about the making of the documentary, and its script.