Viés de atenção para pistas relacionadas com alimentos saudáveis e não saudáveis entre crianças com diferentes pesos ao nascer

Abstract

O baixo peso ao nascimento vem sendo apontado como um fator que tornaria o indivíduo mais vulnerável as pistas ambientais relacionadas com alimentos. O viés de atenção para alimentos (VA) é uma prontidão particular para alocar a atenção para certos estímulos mais do que outros. Nesta tese apresentou-se primeiramente, uma revisão dos aspectos associados com o viés de atenção para alimentos (fome, estilo alimentar e impulsividade) em estudos realizados entre adultos, tendo em vista a escassez de estudos com crianças. Em um primeiro estudo, descreveram-se os procedimentos para escolha de estímulos relacionados com alimentos saudáveis (SD), e não saudáveis (NS) emparelhados com estímulos controle relacionados a objetos (OB), e selecionados para compor uma tarefa de atenção. Estes estímulos foram associados por contexto, cor, luminosidade e avaliados por adultos, utilizando a escala de avaliação emocional SAM (Self Assesment Manikin). A mesma avaliação foi feita entre crianças para obter os estímulos da tarefa de atenção do estudo principal. Em um segundo estudo, investigou-se diferenças no viés de atenção através de uma tarefa de atenção visual construída com base no paradigma da visual probe task, utilizando-se pares de imagens de alimentos saudáveis e objetos (SD- OB), e de alimentos não saudáveis e objetos (NS-OB) obtidos no primeiro estudo. O objetivo foi comparar crianças com baixo peso e peso normal ao nascer em relação ao viés de atenção para alimentos nos diferentes estágios do processo atencional (orientação inicial, atenção automática e mantida) a partir da manipulação dos tempos de exposição (TE), e também compará-las com relação ao IMC. Foram observadas as interações entre os TE 100, 500 e 2000ms. e tipos de imagem de alimentos, assim como, as interações do viés de atenção com relação a medidas de fome, estilo alimentar, preferências alimentares e impulsividade de 27 crianças de 7 a 11 anos (M=9,2). As diferenças principais foram relacionadas aos tempos de exposição independente do tipo de imagem (p≤0,01). Os grupos com peso ao nascer baixo e normal foram diferentes conforme os tempos de exposição (p≤0,05). O grupo com baixo peso ao nascimento (BPN) evitou mais os estímulos alimentares independente do tipo no TE 500ms (p≤0,05). Crianças com sobrepeso se diferenciaram dos demais grupos, mostrando aproximação das imagens SD no TE 100, evitação no TE 500 e aproximação no TE 2000ms. A atenção automática para alimentos SD foi associada à fome. Ingestão lenta e atração por alimentos se associaram ao viés negativo no TE 100, e ao TE 500 entre aqueles com maior seletividade alimentar. A tarefa de atenção mostrou-se compreensível e sensível para detectar diferenças nos grupos por 11 PN e IMC, e com relação aos estímulos utilizados. As medidas de atenção obtidas mediante a tarefa resultam mais confiáveis que o autorrelato já que permitem observar a direção da atenção em diversos estágios do processo atencional. Os resultados contribuem para a compreensão do processo atencional, envolvido no comportamento alimentar de crianças.

Low birth weight has been identified as a factor that would make the individual more vulnerable to environmental cues related to food. The attention bias to food (AB) is a particular readiness to allocate attention to certain stimuli more than others. The first part of the current thesis consists of a review of the issues associated with the attention bias to food (hunger, food style and impulsivity) in studies with adult population, given the lack of studies with children. In a first study depicts the procedures for the selection of the stimuli used to built an attention task. They were related to healthy foods (SD) and unhealthy food (NS) and were paired to a set of control pictures showing neutral objects (OB). These stimuli were sorted by context, color, brightness and evaluated by adults using the emotional evaluation scale SAM (Self Assessment Manikin). The same assessment was made among children to obtain the stimuli of the attention task of the main study. In a second study, differences in attention bias were investigated by means of a visual attention task, which was built following the visual probe task paradigm, using images of healthy and unhealthy food coupled to non-food images, all of them obtained in the first study. The aim was to compare children with underweight and normal birth weight, regarding the attention bias to food at different stages of the attentional process (initial guidance, automatic attention and maintained attention) by means of manipulation of the exposure times (ET), and also compares them with respect to BMI. Interactions were observed between the ET 100, 500 and 2000ms. and types of food image, as well as the attention bias interactions regarding hunger measures, food style, food preferences and impulsivity among 27 children aged 7 to 11 years (M = 9.2). The main differences were related to the time of exposure independent of the type of image (p≤0.01). The groups with low and normal birth weight were different according to the exposure times (p≤0.05). The group with low birth weight (LBW) avoided food stimuli independent to type in ET 500ms (p≤0,05). Overweight children are different from other groups showing approximation of SD pictures on ET 100, avoidance on ET 500 and approach in ET 2000ms. Automatic attention to SD foods was associated with hunger. Slow intake and attraction to food were associated with negative bias in the ET 100 and ET 500 among those with higher food selectivity. The attention task proved to be understandable and reliable to detect differences in the groups by birth weight and BMI. The measures of attention obtained through the task are more reliable than the self report because they allow to observe the direction of attention in several stages of the attentional process. The results contribute to the understanding of the attention processes involved in the eating behavior of children.