"O silêncio é uma prece": comunicação e a escuta do homem branco heterossexual no Slam

Abstract

Este trabalho tem por objetivo compreender os sentidos que o homem branco heterossexual atribui à experiência de escuta no slam, competição de poesia que se espalha pelo Brasil nos últimos anos e que tem o protagonismo dos negros e das mulheres. Partindo da perspectiva de que o homem branco possui o privilégio histórico de fala na sociedade, colocar-se no lugar de escuta é um deslocamento. Busca-se, portanto, entender como este deslocamento contribui na criação de uma política de escuta e na comunicação entre o Eu e o Outro, permitindo e fortalecendo a convivência e a coabitação no espaço público. Além disso, a pesquisa propõe-se a discutir a branquitude e entender as responsabilidades do homem branco hétero nas lutas antirracismo e antimachismo. Para abordar os conceitos pertinentes à proposta de investigação, foram acionados como referenciais teóricos autoras e autores como Cardoso (2010, 2014), Djamila Ribeiro (2017), Jovchelovitch (2008), Kilomba (2016), Marcondes Filho (2004, 2015), Mombaça (2017), Silva (2010), Souza (2017), Tiburi (2015, 2017) e Wolton (2006, 2010). Além de estudo bibliográfico, foi usada metodologia qualitativa, por meio da realização de um grupo focal com cinco homens brancos e heterossexuais ouvintes do slam. Os relatos obtidos a partir da discussão do grupo foram analisados, interpretados e categorizados por meio da Análise de Conteúdo. O trabalho conclui que a experiência da escuta para homens brancos pode ser incômoda, gerar consciência sobre os próprios machismos e racismos e ser um ato de pertencimento e convivência.

This work aims to understand the meanings heterosexual white man attributes to the experience of listening in slam, a poetry competition that has spread throughout Brazil in recent years and where blacks and women have the protagonism. Coming from the perspective that white man has the historical privilege of speech in society, putting himself in the listening position is a displacement. Therefore, the research seeks to understand how this displacement contributes in the creation of a politics of listening, and thus how it contributes in the communication between the Self and the Other, allowing and strengthening the coexistence and cohabitation in public space. In addition, the research discusses whiteness and the responsibilities of heterosexual white man in the anti-racism and anti-machism struggles. To address the concepts pertinent to the research proposal, authors such as Cardoso (2010, 2014), Djamila Ribeiro (2017), Jovchelovitch (2008), Kilomba (2016), Marcondes Filho (2004, 2015), Mombaça ( 2017), Silva (2010), Souza (2017), Tiburi (2015, 2017) and Wolton (2006, 2010) were used as theoretical references. In addition to a bibliographic study, a qualitative methodology was used, through the establishment of a focal group with five heterosexual white men who are slam listeners. The reports obtained from the group discussion were analyzed, interpreted and categorized through Content Analysis. The work concludes that the experience of listening can be uncomfortable for white men; it generates awareness about their own machismo and racism; and it can also be an act of belonging and coexistence.