Duração de vogais tônicas antecedentes a consoantes plosivas no português brasileiro
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Data
2017Autor
Orientador
Nível acadêmico
Graduação
Assunto
Resumo
Estudos acerca do papel da duração de segmentos vocálicos e consonantais não são nada recentes. Pesquisadores do mundo todo, com mais ou menos recursos metodológicos, já se debruçaram sobre tal aspecto fonético-fonológico. O fenômeno da duração de segmentos vocálicos precedentes a segmentos consonantais surdos e sonoros e o papel que tal parâmetro desempenha também já foram largamente estudados, principalmente na língua inglesa. Ladefoged (1982) traz uma descrição bastante abrangente sobre a fo ...
Estudos acerca do papel da duração de segmentos vocálicos e consonantais não são nada recentes. Pesquisadores do mundo todo, com mais ou menos recursos metodológicos, já se debruçaram sobre tal aspecto fonético-fonológico. O fenômeno da duração de segmentos vocálicos precedentes a segmentos consonantais surdos e sonoros e o papel que tal parâmetro desempenha também já foram largamente estudados, principalmente na língua inglesa. Ladefoged (1982) traz uma descrição bastante abrangente sobre a fonética dessa língua, tratando, inclusive, sobre esse tema. A saber, a duração da vogal em contexto antecedente a consoantes sonoras (como em mad) tende a ser maior, se comparada com a duração da mesma vogal em contexto antecedente a consoantes surdas (como em mat). Já Keating (1985) traz questionamentos sobre a possível universalidade desse fenômeno, trazendo exemplos de línguas em que tal fato não ocorre necessariamente. Tais estudos, então, impulsionaram pesquisadores do mundo todo e do Brasil a replicá-los em outras línguas e em outros contextos. Tratando especificamente de Brasil, temos um panorama bastante amplo de estudos que se dedicam a analisar esse aspecto em um viés de interlíngua português-inglês (ZIMMER; ALVES, 2007, 2008, 2012; ALBUQUERQUE, 2010, 2012) e interdialeto português brasileiro e português europeu (ESCUDERO et al, 2009).Além disso, em contextos de fala atípica e de comparação de fala adulta com fala infantil também há pesquisas robustas que tratam sobre o tema (BRITTO, 2010). Todavia, o português brasileiro (PB) carece de estudos que tratem especificamente sobre esse fenômeno sem levar em conta contextos de interlíngua ou fala atípica. Acreditamos que uma melhor caracterização da língua per se é de extrema importância para se pensar em aplicabilidade de tal característica em contextos diversos, como os acima mencionados. Surge, assim, a motivação do presente trabalho, que tem por objetivo principal analisar a duração das vogais precedentes a segmentos consonantais surdos e sonoros de sílaba seguinte (cata/cada), e verificar se o fenômeno descrito pela literatura atual se repete na variedade dialetal da região metropolitana de Porto Alegre (RMPA) do PB. Adicionalmente à variável sonoridade, pretendemos verificar o papel das variáveis sexo, ponto de articulação e qualidade da vogal nas durações. Para alcançarmos tais objetivos, um experimento foi conduzido com 10 participantes monolíngues falantes do dialeto alvo da pesquisa, 5 do sexo masculino e 5 do sexo feminino. Fundamentamos todo o trabalho em uma concepção adaptativa complexa de língua (LARSEN-FREEMAN, 1997; LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008), pois, em nosso entendimento, não há como estabelecer categorias fixas em aspectos contínuos da fonética e da fonologia, bem como estabelecer influências de determinados segmentos sobre outros sem levar em consideração tal perspectiva de linguagem. Todos os valores absolutos e relativos passaram por testes estatísticos a fim de se examinar se as possíveis diferenças encontradas eram estatisticamente significativas. Em cada uma das variáveis (sexo, ponto de articulação, vogal e sonoridade) foi verificada a ausência ou presença de efeitos principais e possíveis interações entre elas. Dentre os resultados encontrados, há a confirmação do que a literatura prevê: as durações das vogais antes de consoantes vozeadas são mais longas do que as durações de vogais antes de consoantes desvozeadas. Verificamos, também que os valores relativos das produções do grupo masculino eram menores do que os valores encontrados no grupo feminino, embora não tenhamos encontrado significância estatística. Os resultados indicam para um papel importante do ponto de articulação nesses valores de duração, pois foram encontradas interações entre ponto e sonoridade. Ademais, os resultados também corroboraram estudos anteriores que afirmaram as vogais baixas serem mais longas do que as altas (CATFORD, 1977; LINDAU, 1978). Encontramos interação, nos valores relativos, entre três variáveis juntas: vogal, ponto e sonoridade, o que não se verificou nos valores absolutos. Alguns dos resultados aqui encontrados não se mostraram imperativos e definitivos, o que vai inteiramente ao encontro da concepção de língua adotada no presente estudo. Acreditamos que a língua, por ser um Sistema Adaptativo Complexo (SAC), não pode ser categorizada em parâmetros de ‘sim’ ou ‘não’, mas em características gradientes de um continuum que vai do ‘sim’ para o ‘não’. ...
Abstract
Studies about the role of the duration of vowel and consonantal segments are not at all recent. Researchers from all over the world, with more or less methodological resources, have already considered this phonetical-phonological aspect. The phenomenon of duration of vowels preceding voiceless and voiced consonantal segments and the role that such a parameter plays have also been widely studied, mainly in the English language. Ladefoged (1982) provided a very comprehensive description of Englis ...
Studies about the role of the duration of vowel and consonantal segments are not at all recent. Researchers from all over the world, with more or less methodological resources, have already considered this phonetical-phonological aspect. The phenomenon of duration of vowels preceding voiceless and voiced consonantal segments and the role that such a parameter plays have also been widely studied, mainly in the English language. Ladefoged (1982) provided a very comprehensive description of English phonetics, including on this subject. Namely, the duration of the vowel in antecedent context to voiced consonants (as in mad) tends to be greater, if compared with the duration of the same vowel in antecedent context to voiceless consonants (as in mat). Yet Keating (1985) raises questions about the possible universality of this phenomenon, bringing examples of languages in which this fact does not necessarily occur. Such studies, then, have stimulated researchers from around the world and from Brazil to replicate them in other languages and in different contexts. Speaking specifically about Brazil, we have a fairly broad panorama of studies that focused on this aspect in a Portuguese-English interlanguage bias (ZIMMER; ALVES, 2007, 2008, 2012; ALBUQUERQUE, 2010, 2012) and Brazilian and European Portuguese cross-dialect bias (ESCUDERO et al, 2009). In addition, in the context of atypical speech and adult speech comparison with infant speech there are also strong research that deal with the subject (BRITTO, 2010). However, Brazilian Portuguese (PB) lacks studies that deal specifically with the subject without taking into account contexts of interlingua or atypical speech. We believe that a better characterization of the language per se is extremely important to consider the applicability of such a characteristic in different contexts. Hence the motivation of the present work, which aims to analyze the duration of the vowels preceding voiceless and voiced consonantal segments in following syllable (cata/cada), it is also to verify if the phenomenon described in the current literature is repeated in the dialectal variety of the metropolitan region of Porto Alegre (RMPA) of Brazilian Portuguese. Additionally to sonority, we intend to verify the role of the variables gender, point of articulation and type of vowel in the durations. In order to reach these goals, an experiment was conducted with 10 monolingual speakers of the research target dialect, 5 males and 5 females. We based this work on a complex adaptive concept of language (LARSEN-FREEMAN, 1997; LARSEN-FREEMAN; CAMERON, 2008) because, in our understanding, there is no way to establish fixed categories in continuous aspects of phonetics and phonology, as well as to establish influences of certain segments on others without taking into account such perspective of language. All absolute and relative values underwent statistical tests in order to examine whether the possible differences found were statistically significant. In each of the variables (gender, point of articulation, vowel and voicing) the absence or presence of main effects and possible interactions between them were verified. Among the found results, there is a confirmation of what the literature predicts: vowel durations before voiced consonants are longer than vowel durations before voiceless consonants. We also verified that the relative values of the male group productions were shorter than the values found in the female group, although we did not find statistical significance. The results indicate an important role of the point of articulation in these values of duration, since interactions between point of articulation and sonority were found. In addition, the results also corroborate previous studies that affirmed that lower vowels were longer than the higher ones (CATFORD, 1977; LINDAU, 1978). We found, in the relative values, interaction between three variables altogether: vowel, point of articulation and sonority, which was not verified in the absolute values. Some of the results found here have not been imperative and definitive, which is entirely in line with the language conception adopted in the present study. We believe that language is a Complex Adaptive System (CAS), which means it cannot be categorized in 'yes' or 'no' parameters, but in gradient characteristics of a continuum that goes from 'yes' to 'no'. ...
Instituição
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Curso de Letras: Licenciatura.
Coleções
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TCC Letras (1219)
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